Por José Carlos Campos Velho
“As religiões são caminhos diferentes convergindo para o mesmo ponto. Que importância faz se seguimos por caminhos diferentes, desde que alcancemos o mesmo objetivo?”
Mahatma Gandhi
O Movimento Slow Medicine Brasil participou de uma conferência em Delhi, na India, nos dias 21 e 22 de abril de 2018. A entidade indiana Alliance of Doctors for Ethical Health Care-ADEH organizou sua primeira conferência, que ocorreu no All India Institute of Medical Sciences, em Delhi.
Em sua Declaração, a ADEH afirma que “estamos falando em nome do grande número de médicos conscientes e racionais na Índia, angustiados em relação ao estado da prática médica na Índia de hoje. Estamos preocupados com a deterioração dos padrões éticos na prática médica privada e a dura comercialização dessa profissão outrora nobre (como a crescente incidência de más-práticas, investigações irracionais, procedimentos e cirurgias desnecessárias, propinas), bem como com o relacionamento combativo entre pacientes e médicos, fato que ocasiona insegurança entre os médicos. Queremos trazer de volta a relação saudável e harmoniosa entre médicos e pacientes.”
Nesta primeira conferência, First National Conference on Ethical Healthcare 2018 , a organização indiana convidou representantes de 3 movimentos internacionais, a Right Care Alliance, dos EUA, representada por Vikas Saini, presidente do Lown Institute, a Associação Italiana de Slow Medicine, representada por Andrea Gardini, atual tesoureiro da associação e o Movimento Slow Medicine Brasil, representado pelo geriatra José Carlos Campos Velho, editor do site Slow Medicine Brasil, para o debate “Challenges faced for Right/ Ethical healthcare in the Global context” .
As 4 organizações produziram um documento, cujo teor publicamos na íntegra abaixo, em que convocamos médicos, profissionais de saúde e cidadãos, a se unirem em torno de um novo paradigma na atenção à saúde. Esta proposta se coaduna com a diretriz da Organização Mundial da Saúde, que é tema do Dia Mundial da Saúde, o acesso universal à assistência médica. O dia mundial da saúde marca o início das atividades da OMS, em 1948.
Comunicado Conjunto: Right Care Alliance, Alliance of Doctors for Ethical Health Care, Slow Medicine Itália, Slow Medicine Brasil
Em todo o mundo, mais e mais pacientes, suas famílias, seus médicos, enfermeiros e outros profissionais de saúde que cuidam deles, estão experimentando um mal-estar cada vez mais profundo sobre um ambiente de trabalho excessivamente preocupado com dinheiro e lucro. A medicina está em perigo de perder sua alma e sua essência.
Boa parte do mundo não tem acesso a cuidados básicos de saúde. Ao mesmo tempo, muitas pessoas estão recebendo cuidados que não precisam e não gostariam, se estivessem totalmente informadas sobre eles.
As fontes deste estado de coisas são muitas, incluindo o declínio do profissionalismo, a corrupção da ciência, o fracasso em ouvir as comunidades sobre suas necessidades, a falta de contribuição democrática para o planejamento dos sistemas de saúde, a crescente desigualdade econômica e a tendência de mercantilização da atenção à saúde, tratando-a como uma mercadoria, com foco no lucro. Esse declínio se acelera na medida que os governos se afastam de sua responsabilidade de cuidar de seu povo, apoiando-se cada vez mais, de forma irresponsável, nos setores privados de saúde, frequentemente guiados por vantagens financeiras, através da indústria farmacêutica e de tecnologia médica e de seguradoras privadas.
Diante desses problemas, vemos um movimento emergente pela saúde em todo o mundo, em muitas sociedades de culturas e histórias variadas, todas enfrentando essa questão fundamental da existência humana: como as pessoas tratarão umas às outras, como unidades em um processo de produção econômica, ou como seres mortais necessitados de solidariedade e apoio?
Nós, as organizações abaixo-assinadas, declaramos que precisamos de um novo tipo de assistência médica que coloque o relacionamento à frente da transação econômica e honre a chamada ancestral dos curadores como guias na jornada da vida, para todos os membros da comunidade humana.
Acreditamos que é hora de um renascimento nos cuidados de saúde. Tal renascimento deve ser focado na restauração da relação entre os curadores e suas comunidades. Esse espaço sagrado precisa de maior proteção contra as forças pecuniárias, precisa permitir que a ciência assuma seu papel apropriado como um agente de amparo às necessidades humanas, e não como um instrumento de lucro. E por fim garantir que os profissionais de saúde sejam capazes de oferecer a dádivade seu tempo e o bem do seu conhecimento para todas as pessoas.
Acreditamos que a humanidade deve tomar uma decisão fundamental – de que a saúde não é uma mercadoria, mas um bem social. A saúde deve ser declarada um direito fundamental de todos os cidadãos em todo o mundo e os vetores de uma boa saúde, como segurança alimentar, abrigo e educação, devem ser assegurados.
Convocamos todos os profissionais de saúde e todos os cidadãos preocupados com a saúde de suas famílias e comunidades a se unirem a nós em nosso trabalho: desenvolver todas as ações, iniciativas e políticas que promovam uma visão da atenção à saúde para o bem comum, um cuidado de saúde que esteja em harmonia com a nossa natureza profundamente social e com a nossa capacidade de inovação, com atendimento de alta qualidade, equânime e acessível a todos, operando em um amplo sistema de saúde, que promova a saúde de todos.