Artur e o Infinito

abril 17, 2017
No comments
Visitas: 8378
4 min de leitura

Por Gisele Sugai:

Uma mente diferente, uma questão pulsante.

Um filme de media metragem, para uma longa reflexão.

Arthur e o Infinito, de Julia Rufino, provoca nossa sensibilidade, e chama nossa atenção para uma questão pulsante. Tão pulsante quanto tantos outros fenômenos humanos, para os quais nem sempre estamos preparados para observar, diagnosticar e cuidar. Trata-se de uma criança autista, sua família e os caminhos percorridos dentro de cada um em busca de si mesmos.

E digamos que o mês de abril seja ideal para assistirmos a este filme, já que o Dia Mundial do Autismo, é celebrado anualmente em 2 de abril, e foi criado pela Organização das Nações Unidas com o objetivo de voltar os olhares do mundo para esta questão.

O filme nos empurra a observar as sutilezas da Síndrome do Espectro Autista (SEA), a comunicação complexa e os “maneirismos” do menino Artur, cujas primeiras palavras do medico por ocasião do diagnostico, foram:

“(…) O Artur não tem um problema. O que ele tem é uma mente diferente (…)”.

E girando em torno desta tal “mente diferente”, o filme nos descortina não apenas o comportamento de um filho autista, mas especialmente os conflitos de uma mãe buscando caminhos para compreender melhor o mundo desse filho.

Pois é… nossa atenção é inteligentemente desviada para a mãe, que neste caso é ‘saudável’, e não tem uma “mente diferente”. Se assistirmos ao filme lembrando-nos de alguns dos princípios da Slow Medicine (SM), e vamos perceber a importância de olhar para o conflito das famílias no dia a dia com seus filhos especiais. A SM nos ensina sobre o tempo para ouvir, para entender, para refletir. Tempo que deve ser destinado não apenas ao paciente, mas também aos seus cuidadores. A SM nos fala sobre os valores, expectativas e preferências do paciente, onde estão envolvidos o ambiente de cuidados e sua família. E se muito atentos, continuarmos caminhando com a autora pelo filme, vamos nos encontrar com outro principio da SM: paixão e compaixão – a paixão pelo cuidar e o sentimento da compaixão na atenção médica. Neste caso, vamos perceber a necessidade dessa paixão e compaixão voltadas para a mãe do menino Arthur. Sim. A mãe. Porque o médico cuida do paciente, a mãe cuida também, mas quem cuida da mãe? Quem cuida do Cuidador?

Artur e o Infinito nos convida a olhar através do “doente, através das doenças”, e perceber que em torno do paciente existe um mundo que talvez desconheçamos. Existe um mandala de conflitos, emoções e necessidades familiares que interferem diretamente no prognostico. E nós, médicos, precisamos nos lembrar que o cuidador, precisa ser reconhecido como peça fundamental na recuperação do nosso paciente, e no sucesso do tratamento proposto por nós.

Você encontrará a poesia do sofrimento nas entrelinhas. E é bem possível que você se recordará de algum cuidador, para o qual você deve voltar seus olhos, e estender sua compaixão.

E como bem fez a Organização da Nações Unidas, que criou o Dia Mundial do Autismo, quem sabe nós, juntos, possamos criar o Dia Mundial do Cuidador!!!

Assista a este filme… Sem medo de errar!

__________________

Gisele Sugai, médica, apaixonada pela medicina praticada no seio das famílias, defensora do SUS e da Atenção primária há 20 anos, trabalhando atualmente na Assessoria Técnica Médica da Organização Social Santa Catarina, no município de São Paulo.

…………………………………………………….

Julia Rufino se formou em direção de cinema pela Academia Internacional de Cinema e há 7 anos trabalha no setor audiovisual. Atualmente, está trabalhando em dois projetos de filme: um curta metragem chamado Longe de Casa, que conta a história de uma família refugiada da Angola no Brasil e um longa metragem chamado Vera que fala sobre uma paciente que desenvolve o Mal de Alzheimer. Além desses projetos, Julia é também colaboradora da Iniciativa Slow Medicine.
Para saber mais, acesse www.juliarufino.com
E-mail de contato: [email protected]

Comente!

0 0 votos
Classificação do artigo
Inscrever-se
Notificar de
guest

0 Comentários
mais antigos
mais recentes Mais votado
Feedbacks embutidos
Ver todos os comentários

Newsletter Slow Medicine

Receba nossos artigos, assinando nossa
newsletter semanal.
© Copyright SlowMedicine Brasil. todos os direitos reservados.
0
Adoraria saber sua opinião, comente.x