Por José Carlos Campos Velho
“A busca da lentidão, que começa como uma simples rebelião contra o empobrecimento do gosto em nossas vidas, possibilita a redescoberta do sabor”
Carlo Petrini, presidente do Movimento Slow Food
Este artigo explora ideias para atenção à saúde dos idosos a partir da perspectiva da Slow Medicine, baseando-se em afirmações retiradas dos sites de Dennis McCullough e de documentos disponíveis na internet, que nos ajudam a compreender melhor seus pontos de vista. Portanto, várias partes da matéria são traduções livres destes textos e cuja autoria é possivelmente do próprio Dennis, falecido em 2016, um dos grande mentores da iniciativa americana e certamente aquele que mais se debruçou sobre a prática da Medicina Geriátrica.
A proposição de desacelerar o processo de cuidados de saúde dos idosos repousa em alguns pressupostos:
-idosos são mais lentos para se movimentar, para pensar, para entender as questões relativas à saúde;
-necessitam de mais tempo tomar decisões;
-tais decisões em geral concernem também a família e amigos;
-o cuidado médico precisa ser mais inclusivo, pois em geral tais decisões tem implicações para a toda a família.
“Graças aos avanços na medicina, a vida dos idosos e dos doentes pode ser significativamente prolongada. Mas a que custo? Tendo em mente a pergunta “O que é o correto para fazer com nossos pais neste momento?”, como podemos evitar de sermos colhidos pela atual epidemia de morte por cuidados intensivos em que o cuidado é muitas vezes mais destrutivo do que a própria doença? Como fazer as melhores escolhas, e tomar as decisões mais adequadas?
Balizada pelo senso comum e pela bondade, fundamentada na medicina tradicional, mas receptiva às práticas integrativas, a Slow Medicine fundamenta-se na máxima menos é mais. Busca melhorar a qualidade de vida dos pacientes na maturidade tardia, sem comprometer suas famílias financeira ou emocionalmente. Intervenções médicas caras e modernas não necessariamente são as mais adequadas nestas circunstâncias. O cuidado personalizado e gentil muitas vezes produz melhores resultados, não apenas para idosos no final da vida, mas também para seus familiares.”
O livro My Mother Your Mother concentra-se nos idosos com mais de 80 anos, grupo particularmente importante porque tem uma interação e contato frequentes com os serviços de saúde e usa mais recursos per capita do que qualquer outro grupo etário. O aumento exponencial da população de pessoas muito idosas estabelece uma demanda crescente de serviços de saúde. Doenças anteriormente fatais tornaram-se doenças crônicas, gerando fragilidade e longos anos de declínio.
Os mais velhos têm mais probabilidades de se beneficiarem de um cuidado mais ponderado e reflexivo, que se afasta de intervenções intempestivas, particularmente no ambiente hospitalar. É imprescindível desacelerar para manejar cuidadosamente as múltiplas e complexas questões da vida tardia (“Late Life”).
O livro propõe que as pessoas, cujos pais, companheiros e amigos encontram-se em fases avançadas da vida, no limiar de um período em que a saúde começa a declinar e a dificuldade de lidar com as demandas cotidianas de descortinam em um horizonte relativamente próximo, possam se preparar para o início de uma complexa jornada. Esta caminhada será mais tranquila e enriquecedora se nos utilizarmos de instrumentos que a facilitem, como as seguintes sugestões:
O livro My Mother Your Mother é dividido em 8 capítulos. A inspiração para o autor escrever o livro veio de um filme japonês, A Balada de Narayama, que se passa numa pequena aldeia no Japão do século XIX, onde a pobreza grassa e a dificuldade para alimentar as pessoas é parte do cotidiano. Os idosos, quando muito doentes ou ao atingir a idade de 70 anos, devem se despedir das coisas terrenas e se dirigir para o alto da montanha de Narayama, onde encontrarão seus ancestrais – e a morte. O papel do filho é acompanhar os pais nesta subida. A ideia central do livro é essa, como podemos nos preparar melhor para acompanhar nossas pessoas queridas, neste período final de suas vidas. Os capítulos esmiuçam estratégias de como enfrentar as diversas etapas desta caminhada, desde o momento em que as coisas estão equilibradas, até a contemplação da morte e do luto.
O livro procura sistematizar as características de cada fase, começando com o período de Estabilidade, em que o idoso está ainda conseguindo preservar sua vida independente, no estabelecimento de um Compromisso, quando do surgimento de um diagnóstico ou de uma necessidade específica, como um procedimento cirúrgico ou uma hospitalização. Inevitavelmente, as Crises vão acontecer, muitas vezes com uma Recuperação arrastada e penosa. Segue-se o inexorável Declínio, em geral lento e gradual, com longos períodos de relativo equilíbrio. O Prelúdio da Morte – “eu sinto uma mudança em seu espírito”. Finalmente, o evento final, a Morte. A narrativa avança em direção à elaboração do Luto e do Legado da pessoa que deixa a vida, incrustrando sua presença na memória daqueles que permanecem.
“Este não é um plano para se preparar para morrer; é um plano para compreender, cuidar e ajudar aqueles que amamos a viver melhor os seus últimos anos. E a hora de começar é agora.”