Buscar e aprender, na realidade, não são mais do que recordar

dezembro 8, 2018
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A frase do filósofo grego Platão que intitula o nosso post reflete valores caros à Slow Medicine. O dicionário é algo que faz parte da vida da grande maioria das pessoas – pelo menos para aquelas com educação formal, que aprenderam a ler e escrever. Um enorme patrimônio, que adquirimos e burilamos ao longo da vida – a leitura, a escrita. O dicionário hoje é digital, mas quem não lembra daqueles livros enormes, às vezes vários tomos, onde buscávamos o significado das palavras?  No dicionário Houaiss as palavras expressas no título desta matéria, se revelam enquanto valores: Busca significa “esforço no sentido de achar ou descobrir algo, pesquisa minuciosa, revista, investigação, esforço para obter ou atingir algo, tentativa, pretensão” , aprender significa “adquirir conhecimento a partir de estudo, instruir-se, adquirir habilidade prática, vir a ter melhor compreensão (de algo), especialmente pela intuição, sensibilidade, vivência, exemplo”. Recordar, por fim, é “fazer voltar à memória ou vir de novo à memória, lembrar(-se)”.

Buscar, aprender, recordar. Tudo isso faz parte de nossa trajetória enquanto um movimento de ressignificação, de resgate de uma prática médica mais humana e compassiva, centrada na pessoa – o paciente, com suas singularidades e expectativas. O significado de sobriedade no uso da tecnologia no cotidiano, a valorização do relacionamento médico-paciente enquanto eixo essencial do trabalho na atenção à saúde, a individualização do cuidado, expressa pela informação adequada e pelo compartilhamento de decisões. Respeito, na prática médica significa que “cada um tem o direito de ser o que é e de expressar o que pensa. Uma medicina respeitosa acolhe e leva em consideração os valores, as preferências e as orientações do outro em cada momento de sua vida; encoraja uma comunicação honesta, cuidadosa e completa com os pacientes. Os profissionais de saúde agem com atenção, equilíbrio e educação.” Portanto, a permanente busca de excelência no cuidado, o aprendizado que cada encontro clínico pode proporcionar e o poder que a memória tem de trazer sentido a tudo isso é que fazem destas palavras valores caros à Slow Medicine.

Ao longo do segundo semestre de 2018 estivemos presentes na mídia em algumas matérias que foram muito importantes para a divulgação do Movimento. A Revista Ser Médico, do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo, o CREMESP, cuja capa é a imagem que ilustra nosso post, publicou um texto escrito pelo Professor Dario Birolini, chamado Slow Medicine X Fast Medicine. “A Slow Medicine pretende valorizar a relação médico-paciente e incentivar o médico a dedicar à consulta um tempo adequado, a usar de forma correta os recursos diagnósticos, a avaliar a eficácia e os possíveis riscos do tratamento, a assumir seu papel perante a família e a sociedade; e a reconhecer suas limitações e seus eventuais erros. Não é uma volta ao passado, mas sim a abertura de novas perspectivas, reconhecendo os possíveis impactos positivos dos avanços tecnológicos, mas adotando-os de forma sensata e cuidadosa. Deve ficar claro que a Slow Medicine não é uma especialidade ou, muito menos, uma forma de medicina alternativa. É, fundamentalmente, um incentivo à adoção de princípios baseados na ética e na relação médico-paciente, contrapondo-se à adoção de medidas diagnósticas e terapêuticas baseadas em interesses espúrios de qualquer natureza e, como tal, ela se aplica a qualquer especialidade.”

No portal  da Globo, em seu blog Longevidade – Modo de Usar , a jornalista Mariza Tavares escreveu sobre a filosofia da Medicina sem Pressa enquanto uma proposta alternativa de cuidado, que se distancia do uso excessivo da tecnologia e propõe o Tempo enquanto um de seus princípios fundamentais.

Estivemos presentes em uma bela iniciativa em São Paulo, o Dia sem Pressa – Slow Day, organizado pela iniciativa Desacelera SP, cujo “propósito é contribuir para a divulgação e a difusão de um estilo de vida mais desacelerado, em que sejam respeitados o tempo das pessoas, de forma que elas possam ser mais felizes, produtivas e saudáveis. O que nos move são as ideias de convivência afetiva (alicerçada na valorização das relações humanas com afeto, tempo, dedicação, franqueza e verdade); e de consciência temporal (que consiste na tomada das rédeas da relação com o tempo para melhores escolhas).” Nossa colaboradora Suzana Vieira, endocrinologista, participou do programa ‘A vida sem Pressa‘ no canal digital RIT-TV, juntamente com os organizadores do evento.

Uma bela reflexão do Dr. Henri Hajime Sato, publicado no portal Academia Médica, lançou a indagação ‘Estamos prontos para a Slow Medicine?‘. O artigo aponta uma questão básica: que a filosofia e os princípios da Slow Medicine só poderão ser adotados em sua integralidade caso profissionais de saúde, pacientes e cidadãos identifiquem-se com suas concepções. O médico afirma que “não há dúvidas que a slow medicine é uma tendência de uma medicina de ponta e que serve de evolução para o conceito de uma saúde de primeira e aprimoramento da relação médico paciente. Mas somente estaremos prontos se houver uma boa educação em saúde, tanto por parte do médico, tanto do paciente e entre ambos uma boa gestão. Caso contrário, a medicina daqui alguns anos será como no filme Idiocracia, em que o paciente pede o combo de tratamento, o médico aperta alguns botões auto intuitivos, não presta atenção no paciente, não resolve os verdadeiros problemas de saúde, não pensa e ainda cobra caro por isso.”

Finalmente, fomos objeto de uma reportagem do portal Plenae, cujo foco é assuntos relativos ao envelhecimento. A matéria “Mais olho no olho, menos exame: conheça a Slow Medicine” sintetiza de maneira habilidosa uma série de conceitos importantes para a Medicina sem Pressa. “Com o avanço da tecnologia diagnóstica, cresceu também a chamada medicina defensiva, em que os médicos pedem muitos exames para tentar reduzir a possibilidade de erro. Os próprios pacientes exigem esse comportamento, por acreditar que bons profissionais são aqueles que lançam mão de tecnologias – quanto mais modernas, melhor – e prescrevem muitos remédios. Estudos revelaram, no entanto, que o excesso de exames pode piorar a vida do paciente, em vez de melhorá-la. Algumas doenças detectadas provavelmente não trariam qualquer prejuízo à pessoa e poderiam ser somente acompanhadas, evitando tratamentos desnecessários. Existem até nomenclaturas para o problema: sobreuso (overuse em inglês) de recursos, sobrediagnóstico (overdiagnosis) e sobretratamento (overtreatment).”

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Jose Carlos Barbério
Jose Carlos Barbério
6 anos atrás

Tecnologia apropriada e não tecnologia avançada demais!

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