Cinco novas recomendações para nossa alimentação

agosto 18, 2021
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Por Sandra Vernero

Artigo originalmente publicado no jornal italiano “La Voce di Novara e Laghi”, em 19 de julho de 2021. O texto foi traduzido para Língua Portuguesa por Andrea Bottoni.

A Associação Italiana de Dietética e Nutrição Clínica (ADI) renovou suas cinco recomendações no projeto “Fazer mais não significa fazer melhor – Choosing Wisely Italy” sobre práticas que não são necessárias e podem causar danos: as novas recomendações destinadas a profissionais e os cidadãos preocupam-se com hábitos frequentemente difundidos, mas que podem ser prejudiciais.

1. Não siga “dieta com exclusão de alguns nutrientes” ou “jejuns”. São abordagens nutricionais específicas para determinadas doenças, que precisam de um acompanhamento e de uma orientação técnica.

Os exemplos são muitos e generalizados: dietas que excluem certos nutrientes (carboidratos, glúten, gorduras, lactose, proteínas animais, etc.), abordagens dietéticas baseadas em intolerâncias alimentares presumidas (não diagnosticadas por métodos cientificamente validados), ou grupos sanguíneos, ou dietas paleolíticas, ou jejuns intermitentes ou contínuos. Essas abordagens dietéticas podem causar danos à saúde e deficiências nutricionais, não resolvem o problema da obesidade, e podem favorecer os distúrbios alimentares. A orientação é entrar em contato com um profissional de saúde.

2. Evite entrar em contato com profissionais que não sejam especialistas no diagnóstico e tratamento de transtornos alimentares; apenas equipes de saúde especializadas e competentes, pertencentes a diferentes disciplinas, podem cuidar dessas patologias graves de forma multidisciplinar.

Os transtornos alimentares são doenças graves que afetam significativamente a saúde psíquica e física da pessoa, alterando as esferas social e relacional. Os comportamentos alimentares anormais mais frequentes nessas doenças são: restrição alimentar (reduzindo drasticamente a alimentação, como na anorexia nervosa); compulsão alimentar (como no transtorno da compulsão alimentar periódica) e o uso de práticas para compensar os alimentos ingeridos, como vômito autoinduzido, abuso de medicamentos e exercícios físicos em excesso (como na bulimia nervosa). Essas são doenças complexas que denunciam sofrimento psicológico e, infelizmente, na época da pandemia de Covid sua incidência entre os jovens aumentou. Ressalta-se que, entre os transtornos mentais, os distúrbios alimentares são os que apresentam a maior taxa de mortalidade entre os jovens.

A abordagem dos transtornos alimentares deve incluir o envolvimento de muitos profissionais (médicos de diferentes especialidades, nutricionistas, psicólogos, enfermeiros, educadores, fisioterapeutas, entre outros), envolvidos em diversas áreas de competência, na coordenação e no trabalho compartilhado nas diferentes fases do atendimento. O tratamento não se limita ao aspeto nutricional, mas também ao psicossocial, com apoio de centros especializados.

3. Não incentive o uso exagerado e indiscriminado de suplementos alimentares como fatores preventivos de câncer e doenças cardiovasculares

O hábito de usar suplementos para a alegada prevenção de doenças oncológicas ou cardiovasculares é extremamente difundido, especialmente na Itália, gerando uma despesa considerável para os usuários. No entanto, existem evidências científicas sólidas e recentes que não documentam um efeito protetor real sobre o risco de câncer pelo uso de suplementos nutricionais de micronutrientes. A suplementação com vitaminas e minerais nem mesmo produz benefícios na prevenção de doenças cardiovasculares ou na mortalidade por todas as causas na população em geral. A verdadeira prevenção efetiva é representada por hábitos de vida saudáveis: alimentação equilibrada (que é discutida na recomendação 5), atividade física, abstenção do fumo e limitação do uso de álcool. Além disso, se você toma suplementos é muito importante comunicar isso aos médicos durante as consultas, pois podem alterar os resultados dos exames laboratoriais de forma significativa.

4. Pessoas obesas de qualquer idade não têm culpa. O estigma da obesidade piora o estado das pessoas afetadas.

Essa recomendação diz respeito à abordagem de pessoas obesas por outras pessoas, bem como por instituições e profissionais de saúde. Em ambos os casos, culpar sujeitos obesos pode ter um impacto negativo em sua saúde física, psicológica e social, especialmente por pertencerem frequentemente a categorias frágeis. Quando o estigma vem de instituições e profissionais de saúde, pode inclusive ter efeitos negativos sobre a acessibilidade, adequação e qualidade do atendimento. A pessoa que sofre de obesidade deve ser acolhida e tratada com a mesma dignidade e respeito que se tem por todas as outras doenças.

5. Não siga dietas de estilo ocidental com alto impacto ambiental. Somente dietas saudáveis como a dieta mediterrânea podem garantir a saúde física dos indivíduos e do planeta.

A recomendação diz respeito ao impacto dos padrões alimentares não apenas sobre a nossa saúde, mas também sobre o meio ambiente. A alimentação tem peso nos recursos ambientais, tanto no consumo de água, solo, energia, como na produção de gases, acidificação e eutrofização. As “dietas ocidentais” (ricas em gorduras animais e açúcares, e pobres em fibras) são as que envolvem maior impacto ambiental, bem como as que favorecem o aparecimento de doenças metabólicas, cardiovasculares e oncológicas. Por outro lado, “dietas saudáveis” (principalmente à base de vegetais – grãos, legumes, vegetais, frutas – preferindo peixe, com quantidades moderadas de carne – e com gorduras vegetais) têm a vantagem de proteger a saúde das pessoas e de denotarem mais respeito aos recursos utilizados para a produção dos alimentos a serem consumidos. Ao reduzir o consumo de carnes e aumentar o de frutas, verduras, grãos, legumes e peixes, trazemos, portanto, benefícios importantes para a nossa saúde e para o planeta.

Para saber mais

https://choosingwiselyitaly.org/societa/adi/

https://choosingwiselyitaly.org/raccomandazione-citt/disturbi-alimentari-da-curare-su-piu-fronti/


Sandra Vernero é médica, atual Presidente do Movimento Slow Medicine Itália, Coordenadora do Projeto “Fazer mais não significa fazer melhor – Choosing Wisely Itália”.

Andrea Bottoni é italiano, nascido em Roma; médico pela Universidade de Roma “La Sapienza”, com Residência Médica em Nutrologia na mesma Instituição; Revalidação do Diploma de Médico pela UFES; Especialista em Medicina Desportiva, Mestre em Nutrição e Doutor em Ciências pela UNIFESP; MBA Executivo em Gestão de Saúde pelo Insper; MBA em Gestão Universitária pelo Centro Universitário São Camilo; Especialista em Mindfulenss, Instrutor de Mindful Eating Aplicado à Promoção da Saúde e Instrutor de Mindfulness Aplicado à Promoção da Saúde pela UNIFESP; Coach de Saúde e Bem-Estar; Coach Ontológico; Título de Especialista em Nutrologia, em Medicina do Esporte e em Medicina Preventiva e Social; vive no Brasil, em São Paulo, felizmente casado com Adriana, também médica.

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