Por Ana Lucia Coradazzi:
“Há algo de podre no reino da Dinamarca.” Hamlet
“Se um dia a gente ficar doente, precisamos apenas rezar para sobreviver ao hospital. O resto a gente tira de letra.” Ouvi essa frase de uma colega médica, horas depois de ter avaliado um paciente de quase noventa anos, internado no isolamento por suspeita de covid. A imensa frustração dela vinha do número bizarro de condutas insensatas, apressadas e até completamente erradas que eram evidentes no caso, descortinando a falta de discernimento da equipe de saúde que vinha prestando cuidados a ele. Não cabe aqui descrevê-las uma a uma ou fazer uma denúncia pública de um caso específico, porque a profundidade do episódio descrito é muito maior. De maneira geral, a medicina que vemos nos hospitais de hoje é mais ou menos isso: um emaranhado de avaliações afobadas, pautadas por pouco ou nenhum raciocínio clínico, nas quais a negligência ao contexto individual das pessoas é patente e onde proliferam pareceres de especialistas que se esmeram para enxergar apenas a parte que lhes cabe (quando muito). Mesmo quando há um médico específico responsável pelo caso, poucas vezes se vê neste papel um profissional disposto e capaz de alinhavar todas as pontas, construir diagnósticos coerentes, definir estratégias sensatas e, como um bônus, fazer tudo isso em concordância com os valores e expectativas do paciente e da sua família. Na prática, são muitas as partes que nunca resultam num todo.
Talvez seja difícil compreender a magnitude de um problema assim. Aos poucos, nos acostumamos a esse novo normal da medicina, a ponto de nem sequer percebermos que algo muito errado acontece nos corredores dos nossos hospitais. Nós aprendemos a restringir nossas avaliações, com menos perguntas, quase nenhum exame físico e apenas um esboço de raciocínio clínico. Também aprendemos a solicitar exames, muitos deles, principalmente se estiverem arrolados em algum protocolo institucional. Depois, desaprendemos a interpretar estes exames, que acabam respondendo a perguntas que nunca fizemos e que não interessam aos nossos pacientes. E, por fim, passamos a encontrar mais satisfação em ter uma prescrição complexa no computador do que em enxergar o alívio nos olhos de quem cuidamos. O amor pelas prescrições/condutas/exames chega a ser tão profundo que já vi colegas indo embora da enfermaria após entregar a papelada à enfermagem, esquecendo-se completamente de entrar no quarto para ver o paciente. Pobres de nós, que nos contentamos mais em propor condutas do que em ajudar pessoas. E isso é, sim, uma catástrofe.
As insanidades hospitalares estão por todos os cantos. As salas de emergência estão abarrotadas de pacientes cujo diagnóstico se baseou em tão pouca informação que poderíamos supor que o médico foi quase um vidente ao fazê-lo. E é triste constatar que diagnósticos pouco criteriosos, incoerentes e até disparatados vão sendo registrados nos prontuários sem jamais serem questionados, partindo-se do princípio de que o que está escrito está sempre correto. Vai se formando uma cadeia infinita de outros diagnósticos e condutas que se sustentam em premissas errôneas, imprudentes e até mesmo mentirosas (não é raro encontrar descrições de exames físicos que nunca foram feitos, sinais vitais que foram copiados de outro profissional ou informações que o paciente jamais forneceu). Nenhum registro é averiguado, nunca se dá um passo atrás para considerar a possibilidade de um erro, um engano, uma falha. O cuidado ao paciente parece seguir um fluxo com vida própria, no qual basta acatar o que estiver escrito ou preconizado (e salve-se quem puder). Mesmo assim seguimos, alguns por preguiça e outros por ilusão, acreditando que no final tudo vai dar certo. Nem sempre vai. Se formos honestos, “dar tudo certo” é um desfecho cada vez mais improvável, e talvez tenhamos mesmo que contar com a sorte para sobreviver aos hospitais. Precisamos assumir nossa responsabilidade no processo.
Talvez a face mais cruel da tempestade caótica que se formou nos hospitais seja o olhar conformado dos pacientes para tudo isso. Perplexos, muitos nem sequer conseguem questionar o cuidado insuficiente que recebem, tamanha a complexidade das rotinas hospitalares. Criamos protocolos para absolutamente tudo, com parâmetros para mensurar nossa capacidade de cumpri-los e acreditações que beiram a insanidade, tudo em nome de aumentar a segurança e a eficácia da assistência às pessoas. Ao nos assistirem seguros e apressados, nos esforçando para cumprir todos os passos que nos são exigidos na rotina hospitalar, nossos pacientes se assombram com nossa capacidade impressionante de compreender tantas coisas complexas. Eles se constrangem por terem a sensação de estar em meio a uma verdadeira anarquia e, resilientes, confiam que sabemos o que estamos fazendo. Será que sabemos? Não é preciso um olhar tão perspicaz para perceber que as mesmas pessoas que deveriam se beneficiar das nossas estratégias padronizadas acabam perdidas em meio ao caos hospitalar, transformando-se em números e estatísticas. Pior: o (des)cuidado que recebem pode colocá-las em risco real de piorar sua saúde e – isso será doloroso de ouvir – matá-las mais rápido.
Às vezes me pego pensando se houve um momento específico em que passamos a esquecer que os hospitais foram criados para que pudéssemos oferecer um cuidado mais abrangente, e não menos individual. Eram uma forma de concentrar as pessoas doentes num lugar só para que todas pudessem receber tudo de que precisassem, para otimizar os recursos humanos e os insumos e, principalmente, para que os profissionais da saúde pudessem partilhar seus aprendizados e acessar situações clínicas mais diversas. Em última instância, a alocação de pacientes nos hospitais permitia mais tempo para que os profissionais da saúde lhes prestassem cuidados, pensassem sobre seus casos, trocassem experiências entre si, observassem de perto a eficácia (ou fracasso) de suas condutas e, por fim, se tornassem profissionais mais capacitados. O que fizemos foi transformar os hospitais em templos tecnológicos, nos quais terceirizamos nossa capacidade de compreender cada caso para que o sistema se encarregue de resolver tudo. Delegamos a individualidade das pessoas aos fluxogramas hospitalares, não deixando a elas outra opção que não seja adequarem-se ao sistema. É assim que temos pacientes amargando horas infinitas de jejum para exames que “só puderam ser marcados todos num dia só”, ou aguardando horas para receberem um analgésico para suas dores excruciantes “porque é necessário preencher uma requisição especial para pegar a medicação na farmácia e a pessoa que faz isso está em horário de almoço”. Administramos medicações desnecessárias porque a prescrição “foi puxada do dia anterior e o médico não viu que essa medicação já tinha sido suspensa”. Negligenciamos os sinais de uma flebite porque “não tem como isso acontecer tão cedo, o acesso venoso foi colocado há apenas dois dias, e é para durar cinco”. Seduzidos que estamos por tudo o que o sistema hospitalar nos oferece, esquecemos que ele só faz sentido se nos mantivermos no controle, avaliando cada situação com o melhor computador de que dispomos para cuidar das pessoas: nossos cérebros (de preferência, com alguns aplicativos adicionais como empatia, interesse, humildade, compaixão). Ao abrirmos mão da nossa capacidade de raciocinar, nos aproximamos dos chimpanzés (exceto pelo fato de que os chimpanzés ainda demonstram alguma disposição para cuidar de seus companheiros, catando-lhes os piolhos). Os hospitais ofereciam cuidado, hoje vendem serviços. Pensando bem, há situações tão bizarras que talvez os chimpanzés fizessem melhor que nós…
A boa notícia é que hospitais, por mais que possa parecer, não têm vida própria. Não são dotados de uma inteligência suprema que domina os cérebros dos profissionais da saúde e os priva do livre arbítrio e da capacidade de pensar. Esse papel é humano. É de todos nós. Resistir ao impulso de delegar ao outro a responsabilidade que nos foi concedida ao nos formarmos profissionalmente é não apenas uma atitude nobre e admirável: é o porto seguro para que o caos não atinja a nós mesmos. É sempre bom lembrar que, em algum momento, todos nós estaremos do lado de lá, debaixo dos lençóis de um leito hospitalar, olhando os colegas médicos, enfermeiros e tantos outros. Nós nos veremos assustados e perplexos com a falta de comunicação, os discursos desencontrados, a coleta de exames diários de utilidade questionável, a falta de um planejamento objetivo e claro, a escassez de atenção, o barulho contínuo , e a falta de sentido em tudo isso. Profissionais da saúde que somos, o caos nos parecerá ainda mais caótico, e é provável que nos passe pela cabeça que tudo o que gostaríamos era ter apenas um médico que fosse capaz de conversar conosco por 15 minutos, que tocasse nossos corpos adoentados, explicasse seu raciocínio e o motivos de suas condutas, e se despedisse com um plano em andamento (e um sorriso, se não for pedir muito). Esse mínimo provavelmente bastaria para evitar riscos desnecessários, excessos e, claro, muita angústia. E talvez permitisse que nossas chances de sobreviver ao hospital fossem – quem sabe? – um pouco menos assustadoras. Ah! Em tempo: esse médico é justamente o que cada um de nós ainda pode ser.
Ana Lucia Coradazzi: Médica, graduada pela Faculdade de Medicina de Botucatu – UNESP, com residência médica em Oncologia Clínica e pós-graduada em Medicina Paliativa pelo Instituto Pallium, em Buenos Aires, o que mudou de forma irreversível os rumos da sua vida. Atualmente é responsável pela equipe de Oncologia Clínica da Faculdade de Medicina da UNESP, em Botucatu. É autora dos livros No Final do Corredor e O Médico e o Rio. Seu livro mais recente, “De Mãos Dadas” propõe um novo conceito, Slow Oncology – a Oncologia sem Pressa, e é inspirado em uma das principais obras da Slow Medicine, “My mother Your Mother“, de Dennis McCullough, geriatra americano.
Análise certeira. Parabéns pela coragem.
Perfeito. Leiam também , MEDICINA DEMAIS PODE PREJUDICAR PESSOAS SADIAS.
E O DOENTE IMAGINADO.E
A VERDADE DA IND. FARMACEUTICA.
Perfeito. Há muito tempo tenho me sentido angustiada com isso e a gravidade da situação se descortinou quando me despi da condição de médica e acompanhei minha mãe, octagenária, em uma internação e pude ver a incapacidade da equipe, com suas pranchetas de papeis ou tablets com formulários para serem preenchidos, em ver a paciente e as suas necessidades. Chegou ao cúmulo de um membro da equipe entrar no quarto com uma prancheta de papeis e perguntas que já tinham sido feitas várias vezes naquele dia, me ver (ou não ver) agachada ao lado de minha mãe sentada no sofá, molhada pois tinha acabado de sair do banho, tentando socorre-la pois o abcesso que a levou a hospitalização drenava pus. A profissional não parecia ver a situação, insistia nas perguntas totalmente fora do contexto e repetitivas e queria as respostas para preencher o seu formulário e enviar para a acreditação. A minha única alternativa foi levantar minha voz, pois senão ela não me ouvia e insistia em suas perguntas, pedir que saísse e que me mandasse alguém com gaze e soro fisiológico para limpeza. E ainda lembrei que se constava no quadro de identificação da minha mãe que ela tinha risco de quedas, aquilo não era só para constar e que ninguém tinha nos orientado como previni-las e que aquela situação, por exemplo, era de risco. Minha mãe deixou o hospital e até hoje diz jocosamente quando alguém critica uma situação ocorrida nos hospitais: “são os protocolos”.
Perfeito. Há muito tempo tenho me sentido angustiada com isso e a gravidade da situação se descortinou quando me despi da condição de médica e acompanhei minha mãe, octagenária, em uma internação e pude ver a incapacidade da equipe, com suas pranchetas de papeis ou tablets com formulários para serem preenchidos, em ver a paciente e as suas necessidades. Chegou ao cúmulo de um membro da equipe entrar no quarto com uma prancheta de papeis e perguntas que já tinham sido feitas várias vezes naquele dia, me ver (ou não ver) agachada ao lado de minha mãe sentada no sofá, molhada pois tinha acabado de sair do banho, tentando socorre-la pois o abcesso que a levou a hospitalização drenava pus. A profissional, que parecia não querer ver a situação, insistia nas perguntas totalmente fora do contexto e repetitivas e queria as respostas para preencher o seu formulário e enviar para a acreditação. A minha única alternativa foi levantar minha voz, pois senão ela não me ouvia e insistia em suas perguntas, pedir que saísse e que me mandasse alguém com gaze e soro fisiológico para limpeza. E ainda lembrei que se constava no quadro de identificação da minha mãe que ela tinha risco de quedas, aquilo não era só para constar e que ninguém tinha nos orientado até o momento como previni-las e que aquela situação, por exemplo, era de risco. Minha mãe deixou o hospital e até hoje diz jocosamente quando alguém critica uma situação ocorrida nos hospitais: “são os protocolos”.
É com tristeza que assino embaixo. Dura realidade de uma não Medicina.
Difícil, necessário e brilhantemente escrito.
Difícil, necessário e brilhantemente escrito. Parabéns!!!
Parabéns à autora! Postura tão rara que seu testo se transforma numa denúncia corajosa, pois não tenho dúvidas, que até para escrever tantas verdades é necessário uma certa ruptura!!! O triste é não conseguir enxergar mudanças para melhor!!!!
Irretocável! Parabéns colega e filha de outro colega também de Botucatu..( ou me engano?)
Reflexão tão necessária!
Minha querida ANA LUCIA CORADAZZI, companheira da FCMBB, minhas homenagens pela sua atitude corajosa em dizer a verdade VERDADEIRA, Continue sempre em frente com a sua autenticidade. Não a conheço pessoalmente, mas sou do tempo do CORADAZZI. Beijos. Mércia Lúcia de Melo Neves Chade.
Olha só! Um mundo pequeno mesmo!
Não sou médico, aprendi quando na decada de sessenta tive que escolher minha profissão a importância da vocação, no caso do estudo da medicina é ainda mais sério, essa escolha deixou de ser por vocação?
Texto excelente e extremamente necessário. Parabéns pela coragem e disposição da denúncia!
O verdadeiro relato da dura realidade
A mercantilização da medicina é uma grande ameaça a todxs nos!!!
Nós fingimos que estamos cuidando. Os pacientes fingem que se sentem cuidados. ☹️☹️☹️☹️
Parabéns à colega Ana Lucia pelo texto.
Simplesmente real e preocupante.
Lindo e angustiante! Como conseguiu colocar em palavras um sentimento diário como profissional e por experiências pessoais vividas com internações hospitalares na família atualmente…
Não sou médica. Velha, cada vez mais me aproximo das estatísticas das doenças e das chances de internação. Mas, cada vez mais sei que devo lutar para não deixar nas mãos dos médicos e hospitais a decisão sobre minha vida. As decisões serão minhas também . Tenho aprendido isso com alguns médicos que tenho e com vocês da slow medicine
Que depoimento importante, Marilena. Obrigada!
Dra. Ana, como sempre cirúrgica em toda sua análise, realmente os hospitais maquiam tudo em favor de uma acreditação, que quando vejo emoldurado na parede. Só indago, como pode ter sido acreditado? Precisamos de médicos slow, médicos com raciocínio clínico, que gostem de gente, que tenha compaixão e empatia, que lutem pelo paciente!
Quando iniciei a leitura, lembrei de um artigo divulgado está semana para a mídia, que muitos pacientes da UTI, lá foram admitidos, diante de erros evitáveis dentro da unidade hospitalar.
Diagnóstico perfeito da nossa realidade em nossas condutas e práticas da medicins
Lucidez solar na percepcao do _hospitalismo_ _high-tech_, _robóide_ que acumula em suas entranhas/engrenagens o paciente, ainda humano e médicos (na sua maioria) ainda tentando se manter humanos…! Pacientes e médicos, ainda humanos, unam-se em torno de instituições sérias de defesa da humanidade, fortalecendo-as para manter os hospitais como cenário de ajuda, muita ajuda, fazendo com que a _biotech_ sirva somente de instrumento ético para esses que ajudam pacientes!
Sou médica. Certamente, se houvesse uma cadeira ao lado de cada leito, onde o médico pudesse se sentar e conversar com o paciente, com maior proximidade física e mais tempo, os cuidados já melhorariam em muito!
Muitas vezes a cadeira está lá… e ninguém senta nela.
Já vi muitas pessoas dizerem . Não me levem para um Hospital, deixem me em casa . Sabemos o porquê.
Parabéns Dra. Ana Lucia pela mensagem que dá vida aos seus nobres pensamentos enraizados em sua visão e entendimento do que é Ser Médica(o). Parabéns aos colegas que entendem esta mensagem
…e um sorriso, se não for pedir muito). Esse mínimo provavelmente bastaria para evitar riscos desnecessários, excessos e, claro, muita angústia. E talvez permitisse que nossas chances de sobreviver ao hospital fossem – quem sabe? – um pouco menos assustadoras…. que esse mínimo seja a esperança de um futuro melhor e que não acabe nunca, somente aumente e mude a realidade hoje presente. Parabéns por descrever com tanta clareza a atualidade e mantendo a esperança!
Concordo com tudo o que foi escrito… infelizmente os profissionais de todas as áreas da saúde não perceberam que fomos “criados”, nas faculdades, para esperar os pacientes adoecerem. Depois disso, para usar estratégias majoritariamente sintomáticas, ou seja, que não restauram a capacidade das células, dos órgãos em funcionar melhor, simplesmente por que a eles não damos o que eles necessitam, daquilo que são formados… Sou famracêutico bioquímico e nutricionista. O corpo não é formado, construido por medicamentos, mas por nutrientes. ponto. Uma mudança de paradigma precisa existir para que se enxergue uma luz neste caos que vivemos.
Sou interna em uma UPA em NATAL – RN e graças a Deus diferente desse texto os preceptores das salas, amarela e vermelhas, bem como da pediatria faz muito bem as evoluções . Estamos aprendendo muito e presenciamos todos os dias o cuidado que nossos preceptores tem com os doentes. Não posso tambem deixar de comentar sobre a enfermagem que estão sempre perguntando e tirando duvida com o médico antes de efetivar as condutas, Tem ainda a equipe de fisioterapeutas que nos ajuda com os exames cardíacos e pulmonares. tenho muita sorte de ser interna nesse ambiente. Fico um pouco triste que nem todos os pacientes tem essa qualidade de atendimento.
Que bom que você está tendo essa oportunidade de aprender do jeito certo. Não se esqueça que o “mundo real” é um pouco diferente (ou muito), e você vai precisar resistir. Resistir vale muito à pena. Bem vinda à Slow Medicine.
Muito boa essa “explicação” .
Toca nos pontos nevrálgicos da medicina atual
É muito triste ver essa dura realidade
Muito bom ver que está tudo documentado e nada escondido! Nós achamos que não estamos fazendo isso – pelo menos os médicos não especialistas e “pacientes” como eu, em fase madura da carreira escolhida por vocação- mas é sempre bom nos questionarmos! Afeto faz parte do tratamento e eu não dou muita bola quando o próximo paciente reclama que atrasei…
Excelente !
Parabéns!
Acredito que os fatos descritos, que realmente acontecem na vida real, merecem ser avaliados com profundidade. No Brasil existem Faculdades de Medicina e “faculdades de medicina”, ou seja, a qualidade das escolas varia muito, desde escolas tradicionais onde os alunos tem contato com pacientes durante todo o curso, até escolas novas, em que os alunos terão contato com pacientes apenas no último ano do curso. O Brasil merece uma atenção maior sobre a qualidade das atuais escolas de medicina. Talvez o caminho será uma prova para exercer a Medicina, tipo a prova da OAB para os Advogados. Uma lástima, mas diante dos fatos devemos nos questionar se os médicos estão realmente habilitados para o exercício da profissão, para além dos diplomas.
Lindo e corajoso texto. Muito bem escrito. De uma lucidez maravilhosa (que, naturalmente, vem da expontaneidade de falar a partir do coração). Saio desta leitura, um médico mais fortalecido. Cá comigo penso: encontrei a minha “tribo”; não estou só na minha inegociável forma de exercer a medicina.
Se nos incide, violentamente, um preço alto por não abrirmos mão de sermos mais “Chimpanzés”, catando, cuidadosamente, com olhos, ouvidos, mãos e coração entregues.
Qual preço alto? o de sermos tratados, dentro do grande grupo, como “O estranho no ninho”. Para isso há um bem-maquinado aparato repressor que vai deste uma chacota até a perda de empregos e outras medidas controladoras (lembrem-se do… novo setor, “controladoria”). Há infinitos “cala-bocas”. Como a caricatura de um policial fardado parecendo um bujão de gás (na carcaça vão armas de fogo, algemas, “sprays” de pimenta, para os olhos…, armas de choque elétrico e a indiscutível “otoridade” (Importante ressaltar que uso apenas a figura caricata que vemos a cada esquina, para fins ilustrativos. Respeito e admiro essa classe de profissionais que, como nós é diversa e padece das mesmas angústias. Todos nós já nos deparamos com policiais “Chimpanzés” que catam o piolho, com cuidado, e outros que não fazem diferente da lógica… “tirando de circulação o hospedeiro do piolho, tiramos junto, o piolho.
Manifestemo-nos!
Ovaciono a Dra. Ana Lucia Coradazzi.
Estevao Plentz
Bem vindo à “tribo” Slow. 🙂
Maravilhoso e corajoso texto.
Sou Fisioterapeuta . Atuei num hospital universitário do RJ e sei que cada palavra dita é uma verdade. Infelizmente.
Não acredito que um dia as coisas mudem pra melhor.
Parabenizo a Dra. Ana Lúcia.
Só gostaria de acrescentar que a “resiliência ” dos pacientes se deve ao receio de criar mal estar nos profissionais a entregaram seus cuidados e piorar ainda mais a qualidade de atendimento. Excelente texto, parabéns pela coragem Dotora
Concordo.
Como médico, penso que a Medicina deve sim estar sempre embasada pela ciência e contar com os avanços tecnológicos mas precisa ir além, não perdendo nunca de vista a complexidade psíquica e emocional da pessoa e suas particularidades , sua condição social , familiar e profissional.
Infelizmente, o que percebo é que de um modo geral, a saúde psíquica e também física dos médicos está em frangalhos.
Os profissionais médicos estão doentes e sofrendo tanto quanto ou mais que seus pacientes. Nos tornamos reféns de um sistema perverso cujos atores principais são os planos de saúde e a poderosa indústria farmacêutica.
Ademais, não poderia deixar de lembrar que a espiritualidade nos tempos modernos parece ser algo proibido de se
pensar , falar e valorizar.
Sua percepção é absolutamente alinhada com a realidade. Infelizmente.
Doutora elogios sinceros a sua postura. Pergunto: será que somos médicos aos olhos da medicina comercial de hoje. Vivi 46 anos prestando serviços. Apos uma mudança de “ filosofia” passamos de médicos a colaboradores. O sistema passou a exigir cumprimento de metas de faturamento em detrimento ao livre exercício da medicina a qual nos premiava com satisfação e retorno emocional gratificante. Felizmente abandonei o hospital e continuo fazendo o que sempre fiz com especial atenção ao paciente. E nossas entidades o que fazem? Encontros sociais, cabide de empregos, ideologia política , covil de vaidosos ? E a união da classe? Que classe? Será também não somos culpados? Um grande abraço.
Zuel
Retrato perfeito da involução da atenção médica nos hospitais e clínicas. Uma triste e bastante completa verdade da desorganização que vem afetando todos os campos do conhecimento humano que infelizmente também chegou à medicina. Quando os velhos e cuidadosos profissionais da saúde se forem, o futuro será negro e caótico, apesar do progresso tecnológico, inteligência artificial, etc., etc.
Excelente e muito corajoso artigo. Uma verdadeira e necessaria aula de ÉTICA . O SISTEMA corrompe principios, porém quem dotado de Principios jamais deverá acomodar-se.. Em todas as areas dos mais diversos servicos, a Postura Humanizada, Sincera, Empática, engrandecem o Prestador e dão brilho ã sua Consciência .
Ilma.Dra.Ana Lúcia
Sou médico desde 1979. Participo da formação de novos médicos ao exercer o magistério em Fisiologia. Em abril de 2023, experimentei a função de paciente, passando mais de cinco semanas internado, das quais quatro no CTI.
Sua análise foi magnífica, esplêndida. Tocou fundo. A Semiologia inexiste. Os exames complementares, cujo nome indica o seu objetivo, são feitos diariamente. Alguns dos quais sem o menor objetivo. Não se avalia o paciente como um ser humano passando por um momento complicado em sua existência. Não se avalia sua sensibilidade. Não se avalia seu estado emocional.
Enfim, um mero número protocolado.
Parabéns. Sua escrita perfeita faz uma análise de uma boa (grande) parte de nossos hospitais. Em relação a formação médica atual, um outro capítulo.
Atenciosamente
Dra Ana , incrível sua lucidez e coragem , em colocar o dedo nessa ferida da nossa Medicina , com um texto leve de se ler apesar do tema tão “pesado”. Apesar da minha idade e dos 50 anos de carreira , e já quase saindo de cena , seu texto me estimula a vontade de quem sabe ainda atuar para tentar de alguma maneira contribuir nessa linha da Slowmedicina ( q escutei hj pela 1ª vez ) . Minha vivencia como Pediatra clínica, sempre foi baseada nessa linha , e deste sempre lutei contra a massificação das nossas condutas , mesmo sentindo q gritava no deserto, ainda resisto a aceitar essa “modernidade “ que consome nossa Medicina . Infelizmente ao longo de todos esses anos presenciamos mais o crescimento vertiginoso da tecnologia em todos os setores da medicina , e no setor das relações médico paciente nao foi pra melhor , pelo menos na mesma proporção , e os protocolos continuam aumentando e a nos engessar cada vez mais nesse lugar que nunca deveríamos ocupar , o da indiferença , da insensibilidade, da falta de compaixão, etc,etc…uma lista interminável … ainda nos resta a esperança na Slowmedicina !
Parabéns!
Dra Ana , incrível sua lucidez e coragem , em colocar o dedo nessa ferida da nossa Medicina , com um texto leve de se ler apesar do tema tão “pesado”. Apesar da minha idade e dos 50 anos de carreira , e já quase saindo de cena , seu texto me estimula a vontade de quem sabe ainda atuar para tentar de alguma maneira contribuir nessa linha da Slowmedicina ( q escutei hj pela 1ª vez ) . Minha vivencia como Pediatra clínica, sempre foi baseada nessa linha , e deste sempre lutei contra a massificação das nossas condutas , mesmo sentindo q gritei no deserto, resisto a aceitar essa “modernidade “ que consome nossa Medicina . Infelizmente ao longo de todos esses anos presenciamos mais o crescimento vertiginoso da tecnologia em todos os setores da medicina , que no setor das relações médico paciente isso não foi pra melhor , piora ou não melhora na mesma proporção da tecnologia… e os protocolos que nos engessam cada vez mais nesse lugar que nunca deveríamos ocupar , o da indiferença , da insensibilidade, da falta de compaixão, etc,etc…uma lista quase interminável … ainda nos resta a esperança na Slowmedicina !
Parabéns!
Parabéns pela coragem de expor algo tão verdade e de fazê lo de forma contundente e ainda assim quase “poética”.
Me fez refletir e reavaliar, obrigada!
Texto excelente, de uma perspicácia e clareza, que poucos têm. Parabéns! Sem deixar de mencionar a coragem para expor esse assunto, nas muitas das vezes intocável, em razão da opressão do sistema e da própria resistência de alguns profissionais, que se encaixam, deliberadamente, nesse lamentável contexto.
A relação médico paciente não é mais a mesma. Infelizmente! Médico era um ser quase místico. Um enviado por Deus. Um homem de muita confiança e amigo de toda família. Quem nunca ouviu falar de médicos padrinhos de pequenos pacientes, por gratidão dos familiares? Conheço alguns!
Hoje, o médico é visto como apenas um prestador de serviço e o paciente como um mero usurário deste. E nesta cadeia estrita de consumo, onde predomina a dureza do paternalismo hipocrático, o paciente, cada dia mais, perde a sua capacidade de exprimir sua vontade; o seu direito a ser informado dos tantos e aleatórios procedimentos impostos e, o que é pior, de decidir sobre seu próprio tratamento (consentimento nem se sabe o que é!).
E, é neste cenário, que a judicialização tristemente alcança números exponenciais, advogadas, como eu, terminam por lutar para defender médicos, que carregam a pecha de irresponsáveis, em procedimentos onde sequer houve um “erro médico”, mas sim um resultado esperado do próprio procedimento (iatrogênia).
Isto porque esquecem eles (os médicos) que não basta seguir a arte médica e rígidos protocolos, é indispensável disparar um olhar holístico para o paciente, enxergá-lo para além da doença, a alcançar, assim, uma alma sofrida e amedrontada, oportunizando a sua efetiva participação nesse dolorido processo de (possível) cura.
Se, de fato, o médico fosse capaz de conversar minimamente; tocar o físico e o espírito adoentados dos pacientes e se dignasse de explicá-los o que lhes acometem e a consequente conduta médica a ser tomada (tudo isso com o tempero da empatia, paciência e humanidade), certamente, mesmo diante de uma conduta eventualmente negligente, imprudente ou imperita, o paciente por ele assistido (ou sua família) iria compreender que este profissional (amigo, zeloso, terno e competente), não saiu de sua casa premeditado a “errar”, por simplesmente partir da elementar e cara premissa de que médicos são pessoas, de carne e osso, que destinam as suas vidas a salvar outras tantas vidas.
Amanda Luna
Parabenizo a nobre colega e assino embaixo de cada palavra. Lembrando o Prof Osler com sua célebre e atemporal frase: “MEDICINA É A CIÊNCIA DA INCERTEZA E A ARTE DAS PROBABILIDADES”, costumo dizer que esse imperativo define que a ciência sempre estará a serviço da arte e não o contrário. A biotecnologia é extremamente sedutora e os mais jovens são, via de regra, “presas fáceis” rapidamente capturadas pelos protocolos institucionais e pela famigerada “medicina defensiva”. O sistema privado, que há muito deveria deixar de ser chamado de “suplementar”, é sustentado pelas operadoras de planos de saúde, que por sua vez é sustentado por todos nós dentro do modelo mutualista e, como em todos os sistemas, com recursos finitos. Chamo a atenção para essa questão no sentido de lembrarmos que o alicerce da boa prática está no resgate da arte que ainda vive dentro de cada um vocacionado, contaminar cada ser humano que esteja envolvido nos cuidados aos pacientes, incluindo os times da limpeza, da rouparia, da farmácia, da copa,… tentar salvar o maior número possível de jovens e nunca desistir desse ativismo. O estudo da bioética, e destaco a Bioetica clínica e os métodos deliberativos, trás ensinamentos preciosos com muitas ferramentas que precisam ser difundidos e expandidos para além do universo dos Cuidados Paliativos onde militam os maiores interessados nesse tema. Voltando aos aspectos dos custos, assunto costumeiramente negligenciado pelos médicos, vale lembrar que os protocolos institucionais e a medicina defensiva, interessam muito aos gestores hospitalares que se tornaram seus grandes incentivadores em nome da “segurança” – dos pacientes e da “MARCA”. No entanto, percebemos alguns gestores, tanto das operadoras de planos de saúde quanto de grandes hospitais, começando a despertar interesse pelas reflexões provocadas pela Bioetica. Quem sabe haja aí um caminho para tocar àqueles que detém o poder econômico? Concluindo, cabe-nos formar a base para a boa prática atentando para o fato de que a saúde não tem preço, mas tem custo, e todos somos responsáveis pela adequada utilização dos recursos como um item também importante dentro de tudo o que foi brilhantemente descrito no texto. Mais uma vez, parabenizo a colega.
Parabéns, colega! Você fez uma síntese perfeita. Agora, pergunto: como fazer para que seu Artigo chegue ao destino? Ou seja, que ele chegue às mãos capazes de reverter esta catástrofe? Refiro-me aos diretores de faculdades, diretores hospitalares e conselhos de classe. Quando falo faculdades e conselhos, não me refiro apenas aos de Medicina, pois certamente fazemos parte de um complexo multiprofissional. Abraço de um colega também perplexo, mas ainda não desiludido.
“O errado é errado, mesmo que todos estejam fazendo. O certo é o certo, mesmo que quase ninguém faça.” A gente precisa continuar no caminho em que acreditamos. 😊
Como médico há 41 anos, este artigo me fez lembrar das noites de céu limpo, em que podemos vislumbrar as constelações claramente. Vemos milhões de pontos estrelados e espaços vazios. Ou seja, ainda podemos identificar, dentro do caos que boa parte de nossos novos médicos estão sendo formados , que ainda há, dentre muitos sem preparo algum, aqueles que são como estrelinhas no universo, tem visão crítica, empatia, curiosidade e vontade de ajudar. Pessoas com a visão da Professora Ana Coradazzi nos dão alento suficiente para estimularmos nossos filhos a seguir optando por profissão inigualável como a medicina. Parabéns pelo artigo e que possa prosperar passando por muito tempo ainda estes conceitos para os neófitos. Muito obrigado!
Muito obrigada! 😊
Parabéns Ana! Irretocável seu texto
Límpido.diria até que foi generosa, pois há muito mais coisas sórdidas nesse sistema maligno atual opressor , castrador e detrator dos médicos, tirando completamente a autonomia destes, impondo ameaças e assédios Morais constantes . O sistema está apodrecido assim como as política e justiça brasileiras. O monopólio das tais “redes hospitalares ” permite uma verdadeira cartelizaçao danosa e perigosa. Há ainda o outro setor privado que se estabeleceu como um câncer na sociedade única e exclusivamente por incompetência, descompromisso,irresponsabilidade dos gestores públicos e afins com a saúde no país, pois se houvesse atendimento público de qualidade (pago pelos pagadores de impostos ), certamente ninguém iria para o sacrifício que é pagar” planos de saúde ” para ser atendidos nessas estruturas hospitalares que você muito bem descreveu . Do outro lado parte dessa responsabilidade é debitada aos médicos que são extremamente desunidos e acovardados , tornando-se subservientes e capachos dessas estruturas mesmo recebendo honorários aviltantes e humilhações dessas instituições que não tem o mínimo respeito pela classe. Uma categoria tão importante na sociedade, mas que perdeu totalmente a consciência de tal importância. Por último e não menos culpados estão as tais “entidades de classe ” como CFM, CRM, AMB Sociedades de especialidades e sub especialidades( pelo menos na cardiologia), que servem apenas para extorquir dinheiro dessa classe tão explorada e desrespeitada, sem agir verdadeiramente em defesa da classe nas suas principais necessidades reais e não um monte de firulas e lero lero para enganar trouxas . São estruturas que com certeza absoluta não representam verdadeiramente a defesa da classe médica. Infelizmente ficamos marcados a própria sorte. Pior ainda somos obrigados a pagar anualmente para manter esses elefantes brancos e sua panelinhas de componentes . Há uma perspectiva de piora significativa desse caos já instalado na saúde como um todo. O cenário é muito suturno com as milhares “faculdades particulares de medicina ” sem exigência de qualquer mínimo critério sério para garantir boa formação médica, então estamos vendo e veremos muito mais ainda essas arapucas ( fábricas de dinheiro ), cuspindo ou vomitando milhares de seres com diploma médico por ano neste país cada vez mais sem estrutura mínima de saúde. Assim a receita para um desastre maior está pronta. INFELIZMENTE 😰😰.
Obrigado pelo seu texto. Gostei muito dele e toca diretamente em dores de quem trabalha (e se interna) em hospital.
Vou acrescentar outros pontos, por que o tema é complexo, e está longe de se resolver nas linhas do blog.
1) Fatos passados tendem a ter uma leitura poética, pois a “memória é uma ilha de edição”. Mas me lembro de muitas vivências de enfermaria em minha graduação nos anos 90 em que muitos erros aconteciam pela falta de folhas de verificação, ou por médicos que agiam no instinto, com condutas proprias e não referendadas (hospitais universitários com seus medalhões então…), cirurgiões que não aderiam às normas, y otras cositas más que só quem trabalha em hospital conhece. Era uma época mais slow, mas os erros aconteciam do mesmo jeito… talvez em uma escala de produção menor, quem sabe… ou não.
2) Liberdade sem ‘skin in the game’ não funciona. O preenchimento de termos e folhas de verificação é uma maneira material de forçar o prescritor a deixar a marca de seu carimbo na documentação do paciente. Quem não conhece o doutor que dá ordens pelo telefone e não faz o registro em prontuário? O prescritor não pode ter liberdade absoluta.
O problema é que agora abundam formulários, escalas e protocolos, e a tecnologia tem tornado muito fácil criá-los (em lugar de reduzi-los). Sem falar que nada mais fácil e genial do que criar um formulário para ser preenchido… pelos outros. Um ponto crítico é encontrar um equilíbrio entre as camadas de segurança e desatenção à pessoa do paciente (e aos resultados do tratamento). Para mim, um exemplo de inspiração é a indústria aeroespacial, em que se o avião cair o piloto morre junto… e não tem mais skin in the game que isso. Essa indústria conseguiu a meu ver – posso estar errado – um equilíbrio entre a papelada e a segurança.
3) Nenhuma tecnologia resolve o problema de um usuário descomprometido. Um bêbado em uma bicicleta talvez seja, na média, um pouco menos perigoso que um bêbado em um Porsche (ou Ferrari, caso prefiram). A tecnologia dá escala… Ao automatizar e agilizar algumas coisas cria-se margem. E infelizmente essa margem não é aproveitar para voltar-se ao paciente, mas a mais tempo de tela e de protocolos.
4) E embora a tecnologia possa aumentar sob um certo aspecto as capacidades produtivas de um profissional, tem uma coisa que ela não melhora: a atenção. É aquela atenção voltada para a realidade concreta que existe fora do observador, e que está lá, no leito 5, reclamando de dor abdominal e ninguém vai lá descobrir que é uma sonda vesical acotovelada.
5) Para jogar mais pimenta, penso que talvez, além de todas as questões específicas que foram tratadas, haja uma dimensão cultural também, problema esse não só da Medicina mas em todas as indústrias humanas. É cada vez mais fácil trocar o outro, o próximo, por uma tela brilhante de celular.
Vou seguir acompanhando as discussões aqui. Obrigado mais uma vez por levantar essa bola.
Grande abraço.
Excelente texto!muita lucidez!