Por José Carlos Campos Velho:
Dra. Jessica Otte é canadense, editora do site Less is More Medicine, e trabalha como médica de família e hospitalista, tendo interesse em medicina geriátrica e cuidados paliativos. Tem um papel de liderança na Campanha Choosing Wisely Canadá, particularmente na região da Columbia Britânica, onde reside. É uma entusiasta da transformação do sistema de saúde canadense, onde luta pelo chamado cuidado apropriado – “approprieteness of care” – buscando ajudar os pacientes a obter a quantidade adequada de cuidados, tendo claro que fazer mais nem sempre significa fazer melhor. Propõe a redução de intervenções desnecessárias ou potencialmente nocivas, batendo na tecla de se investir no que realmente importa: o acesso a um cuidado médico de qualidade e ao suporte adequado à singularidade de cada pessoa e de sua situação clínica.
O seu site é uma fonte riquíssima de informações sobre a forma de medicina que ela acredita, pautada pelo cuidado centrado no paciente e nas decisões compartilhadas, na apreciação de sua cultura e de seus valores, nos riscos das intervenções e nas alternativas terapêuticas possíveis, sempre tendo como norte as melhores evidências disponíveis. É uma plataforma que explora recursos sobre o cuidado apropriado trazendo extensa gama de artigos relevantes, eventos e instrumentos de trabalho para provedores de cuidados e pacientes. Tem uma lista fantástica de projetos e iniciativas semelhantes, distribuída por países e continentes, onde é citado nosso site, bem como os grupos de Slow Medicine da Itália e da Holanda.
Outra secção muito interessante é um glossário de termos que vem sendo usados para descrever ou explicar os movimentos direcionados para uma cuidado apropriado, mais efetivo e melhor escolhido. Em se tratando de um pais bilíngüe, site tem uma sessão em francês, onde são exploradas iniciativas do Canadá francófono.
Sugestões de livros, de filmes, de citações inspiradoras como uma que afirma que “muitas vezes, o melhor tratamento é não tratar e a melhor intervenção é não intervir. Porém essas conversas com os pacientes geralmente tomam muito tempo, para explicarmos que as evidências simplesmente não sustentam a execução de testes diagnósticos ou a prescrição de medicamentos – essas são conversas longas e com freqüência é muito mais fácil na prática clínica fazer as coisas rapidamente e prescrever um medicamento ou solicitar um exame.” *
A dra. Jessica tem uma filosofia de cuidados regida pelo coração – e aqui nos referimos a afeto, a compaixão – e preenchida pela crença de que a escuta cuidadosa dos pacientes acerca do que realmente lhes importa e sobre o que eles verdadeiramente consideram qualidade de vida é o centro da reflexão. A médica se coloca a pergunta fundamental, ou seja, se menos intervenções podem resultar em melhor cuidado. A busca sempre é a melhor perspectiva para os pacientes e a sustentabilidade do sistema. Uma abordagem “Menos é Mais” envolve, em primeiro lugar, uma mudança cultural da medicina e, em segundo lugar, a mudança da interação cotidiana entre médicos e pacientes.
Less is More Medicine, Choosing Wisely, Slow Medicine…. Podemos traduzir como Menos é Mais, Escolhendo com Sabedoria, Medicina sem Pressa… Em verdade, são novas faces da redescoberta do humanismo na medicina, plantando as sementes de um novo tempo, onde a pessoa é o centro e o motivo principal da atenção à saúde. Vale a pena explorar o site, uma enorme fonte de recursos, absolutamente condizentes com a filosofia da Slow Medicine. Boa navegação!
(*)”Often the best medicine is no medicine at all, or the best intervention is no intervention at all. But those conversations with patients that take that time to explain that the evidence simply doesn’t support doing a test or prescribing a drug – are long conversations and it’s much easier in clinical practice to do things quickly and prescribe or order a test.” – Robyn Ward, Medical Service Advisory Committee, no documentário Wasted.