Por José Renato Amaral:
Em 2011, Fabio Padoan Medeiros da Silva, atualmente professor do programa de residência em Clínica Médica do Hospital Municipal de São José dos Campos, cursava a residência de Geriatria da Faculdade de Medicina da USP. Àquela altura Fabio deparou-se com a dificuldade que por vezes temos em lidar com medidas de baixa complexidade, e propôs-se a estudar e sistematizar a aplicação de medidas não farmacológicas para a prática geriátrica. Fábio apresentou a proposta ao Prof. Wilson Jacob Filho, que prontamente acolheu a ideia e promoveu a edição do “Manual de Terapêutica Não Farmacológica em Geriatria e Gerontologia” (Wilson Jacob Filho, Fábio Padoan Medeiros da Silva et. al, São Paulo, Atheneu, 2014).
Para a elaboração do Manual, Fábio nos convocou a todos do Serviço de Geriatria do HCFMUSP – docentes, assistentes, preceptores, residentes e colaboradores voluntários – para a elaboração dos capítulos. O resultado desse empenho foi, num primeiro momento, o aprimoramento da equipe, e de todo o Serviço de Geriatria do HCFMUSP, enfim, no conhecimento e aplicação de medidas não farmacológicas e, finalmente, o lançamento de um manual prático, atualizado e enxuto.
A adoção sistemática de estratégias não farmacológicas proporciona maior engajamento do paciente no cuidado com sua saúde e, por vezes desencadeia um círculo virtuoso de adoção de práticas saudáveis. Embora as medidas terapêuticas não farmacológicas reduzam a polifarmácia, previnam cascatas iatrogênicas e promovam a diminuição de custos, frequentemente são negligenciadas pelos profissionais que as deveriam implementar, por desconhecimento da sua importância e de como educar o paciente para sua implementação. O “Manual” vem oportunamente preencher essa lacuna em nossa formação.
O livro é composto por 24 capítulos, e engloba temas em que o tratamento não farmacológico já é consagrado, como “Insônia” e “Tabagismo”, mas também abrange questões que dificilmente são abordadas sob esse prisma, como “Anticoagulação” e “Órgãos dos Sentidos”. Cada capítulo traz, ao final, uma compilação de orientações ao paciente. Essas orientações estão disponíveis gratuitamente, como arquivos pdf, no site da Geriatria do HCFMUSP para impressão e distribuição aos pacientes. O manual ainda brinda seus leitores com dois prefácios – do Prof. Wilson e do Prof. Dr. Dario Birolini, nosso patrono na Slow Medicine Brasil.
Como afirma Prof. Wilson, no prefácio:
“Depois de um pouco mais de reflexão, lembrei-me de quantas são as orientações capazes de tratar doenças e/ou minimizar sintomas que devem preceder às prescrições medicamentosas, cada vez mais extensas e mais complexas.
Em geral, raramente são utilizadas na prática clínica, por vários motivos, facilmente refutáveis:
“não funcionam” – há evidências suficientes para justificar sua recomendação;
“os clientes não aderem” – não há fundamento que apoie esta opinião;
“os clientes preferem medicamentos” – serão os clientes ou os profissionais que têm esta preferência?;
“eu não as conheço bem” – é chegada a hora de conhecê-las.”
Fábio Padoan foi muito feliz na escolha do tema e extremamente generoso ao dispor seu tempo e disposição, em meio a tantas atribuições da residência médica, para a consecução da obra, que seguramente compensou seu esforço. Como sabemos, sem semelhantes iniciativas, estratégias de muita eficácia e pouco apelo comercial permanecem perenemente alheias ao público e mesmo aos profissionais que as deveriam promover. Por ter acompanhado o desenvolvimento do Fábio e da obra, fico muito feliz em poder divulgar esse trabalho de qualidade e essa bela história, que traz a Universidade pública em seu papel de preencher as lacunas de conhecimento e divulgação que, por sua própria natureza, escapam ao interesse de patrocinadores, e alinha-se perfeitamente com a filosofia “Slow”.
O Prof. Dario Birolini conclui de maneira brilhante o seu prefácio:
“Por todos estes motivos, é essencial que informações corretas sejam divulgadas, tanto aos médicos como ao público leigo, com o intuito de resgatar o elo médico-paciente e de valorizar o profissional tradicional, clássico, aquele que considera fundamental tirar a história da doença atual, avaliar os antecedentes e realizar o exame clínico completo e que, ainda que solicite os exames laboratoriais e de imagem, reserva-lhes um caráter “complementar”.
Concluo essas considerações insistindo na afirmativa de que é de extrema importância que informações como as contidas neste livro sejam amplamente divulgadas, enfatizando a importância dos “generalistas”, sejam eles pediatras, clínicos ou geriatras, evitando que sejam relegados a um plano secundário e, ao mesmo tempo, oferecendo aos especialistas a oportunidade para que adquiram conhecimentos básicos que lhes permitam analisar o doente de forma holística.”
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José Renato Amaral é geriatra, fez graduação e residência pela Faculdade de Medicina da USP e é assistente do Serviço de Geriatria do Hospital das Clínicas da FMUSP desde 2003. Embora paulistano, sempre sonhou em ser médico e morar numa chácara, no interior, mas deu nisso. Acredita nos fundamentos do movimento Slow Medicine como princípios para a boa prática médica contemporânea, tanto no interesse de cada indivíduo/paciente como para a sociedade como um todo.