Por Paulo Fabrício Nogueira Paim e Breno Figueiredo Gomes:
República de Curitiba, 20 de Outubro de 2016, II Congresso Brasileiro de Médicos Hospitalistas da recém fundada Academia Brasileira de Medicina Hospitalar: iniciava-se ali uma conjunção perfeita entre ideias e ideais para a melhoria da assistência em saúde no Brasil. O Modelo Hospitalista, a Slow Medicine e a Campanha Choosing Wisely se casavam! Vários representantes destes movimentos, dentre eles, o médico John Nelson (cofundador da Society of Hospital Medicine), o renomado médico e escritor Marco Bobbio (Slow Medicine Itália), o geriatra José Carlos Campos Velho (Slow Medicine Brasil), Guilherme Barcellos e Luís Cláudio Correia (Choosing Wisely Brasil) e vários hospitalistas brasileiros, estavam juntos para oficializar esta tão frutífera parceria(1). Vale ressaltar que a Academia Brasileira de Medicina Hospitalar e o Movimento Slow Medicine Brasil surgiram praticamente juntos, dia 20 e dia 19 de outubro de 2016, respectivamente! Assim como a oficialização da Campanha Choosing Wisely em solo brasileiro no I Encontro Científico Choosing Wisely Brasil, simultaneamente ao evento dos hospitalistas brasileiros!
E o que há de consoante entre o Modelo Hospitalista, a Slow Medicine e a iniciativa Choosing Wisely?
O primeiro passo para responder esta pergunta é entender o conceito de Medicina Hospitalista. Este conceito nasceu nos Estados Unidos da América no ano de 1996 quando dois médicos americanos, Robert M. Wachter e Lee Goldman, publicaram o artigo “The Emerging Role of ‘Hospitalists’ in the American Health Care System”na revista NEJM, cunhando desta forma o termo que futuramente seria uma importante e pujante especialidade médica naquele país, mudando paradigmas seculares na forma de pensar e construir o novo Hospital do presente e do futuro, sendo hoje nos EUA a especialidade que mais cresceu nas ultimas 2 décadas.
Segundo a SHM, Society of Hospital Medicine, a missão dos médicos hospitalistas é melhorar o desempenho de hospitais e do sistema de saúde, tendo o paciente e seus familiares como foco central. Ao hospitalista, cabe ser a referência médica no cuidado dentro do hospital, unindo atenção integral à todas as necessidades do paciente hospitalizado com as práticas contínuas de melhoria da qualidade na assistência. Além disto, é o maestro na coordenação dos cuidados interagindo e promovendo a sinergia de todos profissionais envolvidos na assistência. O hospitalista “azeita” a engrenagem hospitalar promovendo uma transição segura dos cuidados nos diversos setores do hospital, além de conhecer a fundo os recursos disponíveis para eficiência e eficácia dos resultados clínicos, alinhados com a parte gerencial. O Modelo Hospitalista consegue unir a boa assistência e a boa gestão.
O segundo passo para responder a pergunta é compreender o conceito “Choosing Wisely”, que remete às escolhas mais sensatas ou mais adequadas a serem aplicadas aos pacientes individualmente. O objetivo é unir as melhores evidências científicas disponíveis que, na prática diária, possam trazer mais benefícios e menos danos aos pacientes, de forma reflexiva e consensual.
E um terceiro passo é compreender o conceito filosófico da “Slow Medicine” que defende uma medicina mais sóbria, justa e respeitosa. A Medicina Sóbria invoca a reflexão profunda do valor real e não ilusório dos recursos diagnósticos e terapêuticos a serem aplicados para a obtenção dos melhores desfechos clínicos. Reconhecer de forma pragmática a doença e, principalmente o doente, para agir no momento e da forma certa. A Medicina Justa defende cuidados adequados e de boa qualidade para todos, dentro das circunstâncias de cada atendimento e minimizando a fragmentação excessiva do cuidado. Por fim, a Medicina Respeitosa, que respeita sempre os valores e as preferências individuais dos pacientes e de seus familiares, através de um amplo diálogo consensual. O diálogo transparente é premissa onde os riscos e benefícios são apresentados de forma isenta e humanizada, discutindo as possibilidades disponíveis para nortear a decisão compartilhada. O caminho a ser percorrido deve sempre seguir a autonomia soberana do paciente.
Dentro deste contexto, pautado nestes três pilares complementares e sinérgicos, o médico hospitalista tem papel imprescindível, pois é ele que irá fazer a roda girar, na prática. Lamentar sem agir não promove melhoria, precisamos transformar a teoria em prática, até para validarmos nossas ideias. A transformação dos nossos hospitais em ambientes mais seguros e humanizados, com maior eficácia e eficiência, oferecendo os recursos necessários e, sabidamente benéficos para os melhores desfechos clínicos e uma maior satisfação dos nossos pacientes e seus familiares são nossos sonhos. Acreditamos que conseguiremos transformar esta realidade com nossas atitudes no dia-a-dia dos hospitais, de frente para os nossos pacientes e familiares, “no chão da fábrica”, digo, dos hospitais, com uma visão médico-administrativa aguçada e unindo forças em prol de uma medicina mais “slow” fazendo sempre “choosing wisely”! Nós, médicos hospitalistas, queremos nos tornar protagonistas nesta mudança dentro dos hospitais, para melhorar o nosso sistema de saúde.
Em tempo, caso tenha se identificado com estas ideias, junte-se ao movimento! Venha nos conhecer no III Congresso Brasileiro de Médicos Hospitalistas, nos dias 25, 26 e 27 de Outubro, no Espaço Figueira em São Paulo. Não deixe de ver a programação que está sensacional! Está em cima da hora, mas ainda dá tempo! Inscreva-se pelo site da Academia Brasileira de Medicina Hospitalar . Nos vemos lá!
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Presidente da Academia Brasileira de Medicina Hospitalar