Os Quatro Pilares da Slow Medicine

setembro 24, 2022
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A Associação Italiana de Slow Medicine criou, por ocasião de sua fundação, o Manifesto da Slow Medicine, o qual propõe uma medicina Sóbria, Respeitosa e Justa. Sóbria, porque fazer mais não significa fazer melhor; Respeitosa, porque os valores, expectativas e desejos dos pacientes são pessoais e invioláveis; e Justa, porque propõe uma medicina de boa qualidade que possa ser oferecida a todos. Já o Instituto Holandês de Slow Medicine elaborou, em 2014, os 10 princípios que regem a prática da Slow Medicine ou Medicina sem Pressa. Há algum tempo vimos pensando na elaboração de uma colaboração do movimento brasileiro em relação aos fundamentos da Slow Medicine e propusemos a criação do que chamamos de seus Quatro Pilares.

O primeiro pilar é o Tempo. Da mesma maneira que o primeiro princípio da Slow Medicine sugerido pela iniciativa holandesa é o tempo, constatamos que o Tempo realmente é um de seus mais importantes pilares. O tempo que o médico dedica ao seu paciente transforma-se em qualidade na medida em que permite interação e conexão entre médicos, pacientes, familiares e cidadãos. O tempo permite a troca de informações entre os protagonistas da relação clínica e uma interação profícua entre o profissional de saúde e os pacientes. O tempo enquanto presença; o tempo enquanto espaço de reflexão e troca de impressões. O tempo para o compartilhamento das decisões. E também o tempo para a análise parcimoniosa das evidências científicas e o tempo tão sábio que ajuda a própria ciência a consolidar suas constantes descobertas. É importante apontar que não falamos apenas do tempo restrito de uma consulta, mas o tempo considerado em sua perspectiva longitudinal, na medida em que esta permite uma convivência prolongada entre o profissional de saúde, pacientes e familiares, gerando laços permeados de solidez e confiança, que permitem tomadas de decisão mais harmoniosas e compatíveis com os valores e as expectativas dos pacientes.

A questão do tempo já aponta para o segundo pilar da Slow Medicine que é o Compartilhamento de Decisões. Nada daquela visão paternalista da relação clínica. As decisões compartilhadas tomam um papel cada vez mais relevante na atenção médica. Para tanto é necessário que o paciente e seus familiares sejam adequadamente informados acerca das decisões clínicas e das alternativas diagnósticas e terapêuticas possíveis. “O compartilhamento de decisões é um processo que exige do profissional de saúde o conhecimento a respeito da realidade do paciente, seus valores e suas expectativas, os quais são utilizados como guia para a proposta de estratégias terapêuticas. A comunicação empática de tais propostas terapêuticas favorece a participação do paciente no processo e aumentam sua adesão a elas. Estratégias individualizadas têm papel importante no enfrentamento do sobrediagnóstico e sobretratamento e seus impactos devastadores na qualidade e nos custos da assistência oferecida. Deveriam ser o novo mantra da medicina .”

Passamos agora ao terceiro pilar da Slow Medicine que é o Uso Parcimonioso da Tecnologia. A Medicina sem Pressa não é, de forma alguma, contrária ao uso da tecnologia. Longe disso, ela propõe um uso parcimonioso, ponderado, cauteloso, adequado e racional da tecnologia. E a tecnologia aqui se refere tanto às tecnologias diagnósticas e terapêuticas como às novas tecnologias da informação, cujo uso exagerado pode diminuir a relação clínica verdadeira em vez de ampliá-la. Sempre afirmamos que a Medicina Baseada em Evidências é o referencial teórico da Slow Medicine, e aqui não é diferente. As evidências em geral nos apontam para a necessidade de uma maior racionalidade na utilização dos recursos tecnológicos disponíveis, visando a uma melhor qualidade assistencial e à sustentabilidade do sistema de saúde (campanhas como a Choosing Wisely e iniciativas como a Cochrane nos mostram isso de forma magistral). Duas coisas são inadequadas: a subutilização de recursos (subuso) e a utilização excessiva de recursos (sobreuso). A Medicina sem Pressa não é uma volta romântica à um passado idealizado, mas sim uma atualização dos pressupostos da medicina hipocrática com os atuais recursos diagnósticos e terapêuticos.

Por fim, o quarto e último pilar da Slow Medicine é a Relação Médico-Paciente. Propomos que os protagonistas da Relação Clínica (termo preconizado pelo bioeticista espanhol Diego Gracia, que sugere uma expressão mais ampla e abrangente para a relação médico-paciente, na medida em que outros profissionais de saúde fazem parte do círculo de cuidados aos pacientes) procurem estabelecer laços sólidos e de confiança que permitam uma troca sincera e desinteressada de informações e o compartilhamento das decisões.

Não é à toa que os pilares da Slow Medicine são em número de quatro. Estes pilares (Tempo, Compartilhamento de decisões, Uso parcimonioso da tecnologia e Relação médico-paciente) foram assim escolhidos para simbolizar a ideia de sustentação e estabilidade que o número 4 empresta a qualquer coisa que se construa, seja uma casa, um templo, um sistema de saúde ou uma relação clínica profunda e longeva, pois acreditamos que esta seja a ideia principal da Slow Medicine e de quem acredita em uma medicina mais humana: estabilidade para enfrentarmos as dificuldades inerentes à nossa existência e os obstáculos na busca por saúde e qualidade de vida.

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Texto escrito por José Carlos Campos Velho, em colaboração com Ana Lucia Coradazzi e André Islabão.

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Cintia
Cintia
2 anos atrás

Bom dia ! Eu me chamo Cintia, sou médica oncologista cirúrgica incorporando a slow medicine à minha prática e gostaria de saber se posso publicar trechos deste texto dando os devidos créditos aos autores e link para esta página ( que eu adoro) , no meu site. Obrigada !

Ana Coradazzi
Admin
2 anos atrás
Responder para  Cintia

Claro, Cíntia! Você estará ajudando a disseminar o movimento Slow! Obrigada!

Cibelle Magalhães
Cibelle Magalhães
2 anos atrás

Muito lúcido e necessário este movimento da Slow Medicine. Eu sou cardiologista e há muito vivemos as pressões econômicas da indústria sobre a prática diária. Sinto falta dessa medicina mais humana e centrada na pessoa e não em suas condições financeiras. Muito obrigada por existirem!

Arnaldo V Carvalho
1 ano atrás

Estou fascinado! Não sou médico, mas um terapeuta que atua em “modo slow”, alinhado ao pilares da cultura slow e do que li aqui na Slowmedicine. Indicarei o ste e as pessoas a todos!

Rejane tetelbom
Rejane tetelbom
1 ano atrás

Me identifiquei muito com o movimento. Sou ginecologista e concordo com todas ações. Trabalho no sentido da Slow medicine sem conhecer este conceito, que aplico na minha prática!

Cleide Vanusia Vilela Araujo
Cleide Vanusia Vilela Araujo
3 meses atrás

Sou partidária de uma medicina artesanal imã medida única para cada paciente !

Cleide Vanusia Vilela Araujo
Cleide Vanusia Vilela Araujo
3 meses atrás

Sou partidária de uma medicina artesanal imã medida única para cada paciente !
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