Pindorama

agosto 16, 2016
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Por Kazusei Akiyama:

A Slow Medicine, segundo nossa concepção,  configura-se enquanto uma filosofia e uma prática de trabalho . Não se trata de uma nova especialidade ou um “novo” produto na área da saúde. O movimento, que tem expressão  internacional, teve suas bases assentadas há cerca de 14 anos, por ocasião da publicação do editorial “Invitation to Slow Medicine”, de Alberto Dolara, no então Italian Heart Journal, em 2002. A grande contribuição da Slow Medicine é propor a reflexão  sobre a maneira como é exercida a prática médica atual, buscando a abertura de novos horizontes no sentido de tornar esta prática mais humana,  compassiva e sustentável. 

Entendemos pertinente que esta reflexão seja feita não somente pelos médicos e outros provedores da área da saúde,  mas também pelos pacientes e usuários do sistema de saúde – enfim, pelo cidadão. As questões apontadas pela Slow Medicine como a autonomia e auto-cuidado, prevenção e qualidade de vida encontram-se na ordem do dia para que a discussão sobre escolhas de vida mais saudáveis seja fomentada. Freqüentemente nos deparamos em nossa prática diária, com situações como “o senhor pode solicitar todos os exames que tenho direito, pois o convênio cobre e pago uma fortuna por ele” ou afirmações como “aquele médico é excelente pois prescreve somente os medicamentos mais modernos, os últimos lançamentos; ele realmente é atualizado”… Muitas vezes a demanda por uma Fast Medicine é do próprio paciente, provavelmente por falta de informações confiáveis e por estar habituado à práticas médicas consagradas, porém questionáveis.

Pindorama  é uma revista mensal de circulação gratuita em São Paulo, inteiramente em língua japonesa, voltada para leitores da comunidade nipo-brasileira e para os japoneses expatriados que vêm trabalhar temporariamente no Brasil. Desde 2009 sou responsável por uma coluna  sobre saúde na revista e no último número, de agosto de 2016, tive a oportunidade de escrever uma matéria sobre a Slow Medicine. Como um dos colaboradores do site Slow Medicine Brasil  acredito ser relevante que informações como as que temos buscado compartilhar atinjam uma grande diversidade de pessoas.

O sistema de saúde japonês, seguramente, é um dos melhores do mundo; este fato certamente contribuiu para a transformação do Japão num dos países mais desenvolvidos do planeta. Merece particular destaque o quesito democratização do acesso ao sistema de saúde, que preconiza o acesso universal dos cidadãos aos serviços de saúde. Entretanto, justamente pela suas características, semelhantes à medicina suplementar (planos de saúde, “convênios”, etc) em nosso meio, caracteriza-se essencialmente como uma Fast Medicine : as chamadas consultas de 3 minutos; preponderância do exame complementar como pilar para o raciocínio clínico e a tomada de decisões; utilização intensa de procedimentos diagnósticos e terapêuticos, nem sempre lastreada em indicação precisa; uma tendência para  tratamentos farmacológicos ou cirúrgicos, com menores  investimentos em medidas não farmacológicas de prevenção e tratamento, além de outras características de uma medicina apressada. E com o envelhecimento da população, essa maneira de fazer medicina está levando a aumentos exponenciais em gastos com o sistema de saúde.

Podemos afirmar que existem profissionais de saúde japoneses preocupados com a reflexão e as questões que temos apontado, mas infelizmente hoje eles são a exceção e não a regra.  Percebo, em minha prática cotidiana no consultório, que a grande parte dos pacientes recentemente chegados do Japão, estão muito habituados a essa forma de exercício da medicina, que convencionamos chamar de Fast Medicine.

Nosso objetivo nesse artigo é divulgarmos um pouco da história, do conceito e dos princípios da Slow Medicine, pouco conhecidos em terras nipônicas, para este público particular, propondo uma reflexão sobre a medicina atualmente por lá praticada e sugerindo alternativas de cuidado. Quem sabe esta iniciativa seja uma semente para a busca de uma medicina mais humanizada para as pessoas que falam a língua japonesa e uma oportunidade de resgate da enorme riqueza cultural e histórica do oriente, também manifesta em formas singulares de cuidar.

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