A Arte Perdida de Curar

julho 8, 2016
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Bernard Lown, nascido na Lituânia em 1921, professor emérito de cardiologia da Faculdade de Medicina de Harvard e membro emérito do Brigham and Women’s Hospital de Boston, é, sem dúvida, um dos nomes de maior destaque na medicina contemporânea. Entre outras contribuições, desenvolveu o desfibrilador para a reanimação cardíaca e o cardioversor para a correção de arritmias cardíacas. Em 1985 recebeu o Prêmio Nobel da Paz por sua importante contribuição na fundação do grupo “International Physicians for the Prevention of Nuclear War (IPPNW)”.  Seu livro, A ARTE PERDIDA DE CURAR, foi publicado em 1996 e a primeira versão em língua portuguesa foi lançada em 1997. Trata-se de um texto de leitura fácil, no qual o autor faz uma análise crítica da medicina contemporânea, chamando a atenção para a imensurável importância da relação entre o médico e seus pacientes. Alerta para o fato de que, na grande maioria dos casos, o “ouvir” é o método diagnóstico mais eficiente e “as palavras”, desde que honestas e usadas de forma correta, podem ser o medicamento mais eficaz e mais seguro para a cura. Chama a atenção para o caráter individual dos pacientes e para o impacto dos fatores culturais e psicológicos tanto para a preservação da saúde como para a cura de doenças. Nas palavras dele, “em medicina, a conexão mente-cérebro é o problema mais instigante que temos pela frente”.  Analisa os impactos do uso descabido da tecnologia, inserida na mente dos médicos desde sua formação acadêmica e que transforma os doentes em meros usuários que, “ansiosos por garantias, se entregam a um sem-fim de exames de laboratório e a uma enxurrada de especialistas”, resultando na desumanização da medicina.  Lembra que “tratar” é uma coisa, mas “curar” é outra, e que é uma falácia a adoção indiscriminada, tanto para a população em geral como para um indivíduo em particular, de resultados de estudos estatísticos, pois não pode haver qualquer certeza sobre a acomodação de um determinado paciente a uma curva de distribuição estatística. Enfatiza que a arte de curar é guiada pela experiência e pela humildade por parte do médico e por sua compaixão para com o paciente, e que a arte de curar não pode ser substituída pela técnica de tratar, ainda que elas possam ser complementares. Comenta que o crescente desencanto com a medicina científica, cada vez mais agressiva e mais cara, está levando a uma popularidade cada vez maior das assim denominadas “terapias alternativas”, ou ”medicina não convencional” que tem raízes em tradições diferentes das da ciência. Critica a adoção crescente e indiscriminada da assim denominada “medicina defensiva”, fruto em grande parte da avalanche de informações nem sempre confiáveis divulgadas através dos meios de comunicação e da imprensa, e que induz o médico a solicitar exames, a prescrever medicamentos e a adotar a internação hospitalar dos pacientes de forma indiscriminada, aumentando de forma descabida os custos da assistência. Em suas palavras, “a medicina defensiva desvirtua o profissionalismo e desumaniza a medicina”. Alerta de que a ocorrência ocasional de erros médicos é inevitável e deve ser aceita e compartilhada entre o paciente e seu médico. Um dos aspectos interessantes do livro é a história da implantação das primeiras unidades de atendimento de problemas circulatórios cardíacos, iniciativa na qual o Dr. Lown teve um papel importante. Outros capítulos muito interessantes analisam os desafios representados pelo cuidado aos idosos e aos doentes em fase terminal, alertando para a responsabilidade do médico em oferecer uma “morte digna”. Sem sombra de dúvida, entretanto, o capítulo do livro que mais me impressionou foi o capítulo final, cujo título é “A arte de ser paciente”. Nele o D. Lown faz uma síntese dos principais aspectos conceituais abordados ao longo do livro, e ressalta o significado essencial da relação médico/paciente. Não tenho dúvidas quanto ao impacto extremamente positivo que pode decorrer da leitura destas páginas e da reflexão sobre seu conteúdo, tanto por parte do paciente como por parte do médico. Portanto, sugiro que invistam algumas horas para apreciar o conteúdo do livro, na certeza de que este pequeno investimento resultará em inestimáveis repercussões positivas sobre os anos de vida que lhe restam. E não esqueçam que o livro foi citado pelo Dr. Alberto Dolara quando escreveu o artigo Invitation to “slow medicine”, que cunhou o termo “Slow Medicine” pela primeira vez. Assim, o livro do Dr. Lown tem uma importância histórica inegável. Boa leitura!

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Ana Célia
Ana Célia
8 anos atrás

Parece muito interessante, talvez realmente fundamental para uma boa prática médica. Outra bela dica! Obrigada por compartilhar! Um abraço e parabéns pelo seu empenho na triagem de boas leituras!

José Carlos Campos Velho
José Carlos Campos Velho
8 anos atrás
Responder para  Ana Célia

Pode ter certeza, Ana Célia, é uma leitura enriquecedora e suave. O livro flui e afirma de maneira peremptória a relação médico-paciente como pedra fundamental do exercício da boa prática médica. Relação que se constrói permeada pelo tempo, seja o tempo dedicado à consulta, seja o tempo dedicado à reflexão ou ao conhecimento do paciente e de sua realidade pessoal, familiar, social.

Ronaldo Figueiredo Taddeo
Ronaldo Figueiredo Taddeo
4 anos atrás

Tive a oportunidade na década de 70 de assistir por 2 vezes as conferências do Professor Bernard Lown nos congressos de cardiologia e também tenho o livro em inglês e português : A arte perdida de curar, vale reler várias vezes ,pois a ficamos sabendo a cardiologia desenvolveu-se nos Estados Unidos.

Ana Coradazzi
Ana Coradazzi
4 anos atrás

Sem dúvida! Uma obra sensacional!

Nilton Lelis
1 ano atrás

Arte segundo a tradição filosófica é a somatória entre a “poesis” e a “tecné”. Em outras palavras o poder de inovar através da técnica. Medicina… a arte de curar e não simplesmente técnica de curar;

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