Por José Carlos Campos Velho:
Em dezembro de 2017, Slow Medicine passou a ser um verbete da Wikipedia, disponível por enquanto somente em língua inglesa. Trazendo uma sugestão conceitual, o artigo afirma que “Slow Medicine é um movimento que sugere mudanças na prática médica, inspirado no movimento mais amplo da Slow Food. Praticantes da Slow Medicine publicaram várias definições diferentes, mas a ênfase comum está na palavra “Slow”, que significa permitir ao médico tempo suficiente para interagir com o paciente. Como para o movimento Slow Food, a Slow Medicine é um apelo para equilibrar a ênfase exagerada em processos rápidos que comprometem a qualidade da atenção médica.”
A história da Slow Medicine é explorada, e o artigo de Alberto Dolara, Invitation to Slow Medicine, publicado em 2002, é citado como o marco inicial que cunhou a expressão. Outra matéria, que explora a história da Medicina sem Pressa, escrita por Yung Lie, um dos porta-vozes do Movimento Slow Medicine na Holanda, foi publicada originalmente em nosso site, com o título “Slow Medicine, um apelo internacional por um cuidado mais consciente“.
Os princípios da filosofia da Slow Medicine também são abordados na matéria. “Diferentes médicos enfatizam diferentes aspectos da medicina quando usam o termo Slow Medicine. Para alguns, Slow Medicine significa dedicar tempo, sem se apressar, ao avaliar um paciente. Para outros, a Medicina sem Pressa é uma ponderação cuidadosa das evidências médicas e o desejo de não Superdiagnosticar ou Sobretratar. A Sociedade Italiana de Slow Medicine aponta três palavras-chave: “Sóbria”, “Respeitosa” e “Justa”, que se concentram nos aspectos sociais e políticos da medicina. Uma das primeiras praticantes da Slow Medicine vê o paciente como a metáfora de uma planta que precisa ser nutrida e sugere que as barreiras sejam removidas para permitir que a cura ocorra.”
Em uma página vinculada ao verbete Slow Medicine, uma série de citações, as Wikiquotes, são listadas. De forma curiosa, é feita uma ligação, que já há bastante tempo vem sendo explorada em nosso site e também pela iniciativa italiana, entre a Slow Medicine e a Medicina Narrativa. Rita Charon, a precursora desta disciplina, é resgatada através deste excerto de seu livro Narrative Medicine, Honoring the Stories of Illness (ainda sem tradução para o português).
“Conforme o paciente fala, escuto o máximo possível – não tomando notas durante a entrevista, sem interromper, a menos que seja muito necessário, não indicando, de uma maneira ou de outra, o que considero saliente ou significativo ou interessante. Eu tento o meu melhor para registrar a dicção, a forma, as imagens, o ritmo do discurso. Eu presto atenção – enquanto me sento na borda da cadeira, absorvendo o que está sendo oferecido – metáforas, expressões idiomáticas, gestos, bem como o enredo e as personagens representados para mim pelo paciente. . . . Eu ouço não apenas o conteúdo de sua narrativa, mas também a sua forma. . . seus silêncios, onde ele escolhe começar a contar de si mesmo, como ele seqüencia os sintomas com outros eventos de sua vida. Após alguns minutos, o paciente pára de falar e começa a chorar. Eu pergunto por que ele chora. Ele diz: ‘Ninguém nunca me deixou fazer isso antes’.”
Um ponto a ser sublinhado é que o site brasileiro é citado na matéria como uma das iniciativas internacionais relevantes na divulgação desta filosofia.