Slow Medicine – O Caminho para a Cura

janeiro 15, 2018
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Por Marco Bobbio:

Uma vida pessoal e profissional contada por meio de depoimentos de médicos, enfermeiros e pacientes. Assim, Victoria Sweet (médica de um centro de reabilitação de San Francisco, estudiosa da história da medicina e autora do livro “God´s Hotel”, através do qual ela introduziu o conceito de Slow Medicine), reconstitui o trajeto que a levou a distinguir os méritos e os limites da medicina tecnológica e altamente sofisticada de um lado e as virtudes de uma medicina voltada especificamente para um determinado doente, ou seja a que ela denominou Slow Medicine. Assistindo a uma evolução da medicina cada vez mais agressiva, Victoria Sweet se conscientiza de que a Fast Medicine concentra o foco nos pormenores, nos fragmentos, e deixa de ver a pessoa doente como um todo, adota uma postura de acordo com a qual cada mal estar, cada sintoma é um defeito que deve ser corrigido o quanto antes, e , finalmente, cria um sistema eficaz para curar as doenças agudas, mas que não se preocupa com as doenças crônicas (como enfrentar a vida após um infarto, uma quimioterapia, um acidente automobilístico).  Ainda como estudante de medicina, ela encontra o Dr. Greg (competente, reflexivo, gentil, mas também céptico) que lhe ensina a observar a evolução das doenças e lhe explica que um terço das doenças sara espontaneamente, um terço permanece estável e um terço piora, e a incentiva a não apressar-se com o intuito de curar qualquer problema de saúde; se não há urgência, pode-se esperar. A jovem doutora Sweet toma ciência da filosofia da Slow Food, que põe ênfase mais no processo do que no resultado, e começa a imaginar que uma slow medicine possa ser viável; assim, visitando um menino com otites recorrentes na casa onde ele mora, conscientiza-se das condições higiênicas do estabelecimento onde ele vive, para compreender “seu microcosmo, suas vidas e seu contexto”. A partir de um determinado momento, passa a conscientizar-se que a atitude mais importante a ser tomada logo que um paciente seja internado, e antes mesmo de ler seu prontuário e de conversar com seus familiares, consiste em ir visitá-lo, com o objetivo de analisar e compreender, em poucos minutos, se ele está sujo ou limpo, se está trise ou feliz, se está preocupado, resignado ou irritado. Desta forma consegue-se ter uma percepção imediata de quanto o paciente seja grave, e se estabelece uma relação humana que torna mais simples as visitas sucessivas. São interessantes, também, as reflexões da Dra. Sweet a respeito da evolução do exercício individual da medicina (a arte de assumir a responsabilidade de cuidar de uma pessoa doente e que esteja sofrendo), para a assistência sanitária (o sistema voltado para curar em modo eficiente o maior número de pessoas, reduzindo os custos e os tempos), dos prontuários escritos manualmente (de forma nem sempre compreensível, mas que transmitem a personalidade de quem os escreveu) quando comparados com os prontuários eletrônicos (claríssimos, mas sem alma, pois comumente são o resultado da utilização de cópias de outros prontuários). Em síntese, trata-se de um livro que é a exposição da vida de um médico americano e, ao mesmo tempo, é a divulgação de como podemos nos transformar em médicos “slow”.  Victoria Sweet é uma excelente escritora que sabe tornar vivas e educacionais as histórias de todos os doentes, ainda que o egocentrismo tipicamente estadunidense revele um percurso linear, feito de sucessos, de intuições corretas e de pacientes exemplares.

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Esta resenha foi escrita pelo dr. Marco Bobbio, autor dos livros “O Doente Imaginado” e “Troppa Medicina“, originalmente em língua italiana e traduzido para o português pelo Prof. Dario Birolini, principal mentor e precursor da divulgação da filosofia da Slow Medicine no Brasil.

 

 

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