Por José Roberto Cardoso:
O título me chamou atenção, pois sugere um comportamento que não pratico. Sempre que me deparo com um livro novo, fico ansioso em ler seu final, que me dá prazer indescritível, mas no entanto, este anseio me faz lê-lo muito rápido e me faz perder detalhes que algumas vezes percebo ao conversar com quem o leu.
O livro “Slow Reading – os Benefícios e o Prazer da Leitura sem Pressa” de John Miedema não é um livro novo, seu lançamento vem de 2009 e tem pouco menos de 100 páginas. Livros como este costumava lê-lo no aeroporto, enquanto esperava pelo embarque, mas seu conteúdo me fez refletir justamente sobre o porquê ler rápido.
A fluência do texto é leve, mas o conceito apresentado é profundo. Suas lições me incentivaram e reler vários livros que passaram pelas minhas mãos, que na ânsia de vê-los terminado – não pelo fato de não gostar do relato e sim pelo prazer de ler um texto bem elaborado e com um encadeamento fascinante que nos prende em suas páginas – devo ter perdido passagens ricas que exigiriam uma maior reflexão, que com certeza me levaria a um prazer maior na leitura.
Miedema destaca que a leitura lenta não é simplesmente ler mais devagar, ao contrário, é o exercício adequado para você encontrar a sua velocidade de leitura. O leitor Slow aprecia seu livro como aprecia uma boa comida, reforçando a ideia mestra do movimento “Slow” que foi o “Slow Food” , criado por Carlo Petrini, na Itália dos anos 80. Ressalta ainda que devemos apreciar a leitura e não sermos viciados nela, pois ambos, livros e comida, são elementos essenciais para uma vida saudável.
O livro critica a leitura no formato digital, sobretudo aquelas realizadas através de notebooks e iPads, não pela tecnologia em si, mas pelo fato do leitor ficar permanentemente conectado e ter sua atenção e sua concentração interrompidas a todo instante, com a chegada de novas mensagens.
Toca também na questão ecológica, que joga a favor da leitura digital, mas não deixa de apontar que a tecnologia digital não minimizou o uso do papel, pois todo computador está conectado a uma impressora, que é utilizada sempre que um texto mais longo nos é enviado.
A leitura exige total dedicação. O ideal é que mantivéssemos distantes celulares e outros distratores. Isto não é nada novo, pois o primeiro veículo de leitura, a Bíblia, exige dedicação plena a sua leitura para uma absorção plena de seus ensinamentos.
O autor afirma que o hábito da leitura lenta é uma herança que deve ser passada aos jovens, pois a concentração que deve ser a ela dedicada facilitará muito a compreensão de textos, indo ao encontro de melhor desempenho escolar. Resgata a importância do papel da bibliotecária no bem-estar psicológico da comunidade – ou seja, como outras vertentes do Movimento Slow, a preservação de valores culturais essenciais, representados neste caso pelas bibliotecas e os rituais e pessoas que nelas convivem. Sua orientação ao leitor em como e o que ler é a uma importante habilidade exigida da profissão de bibliotecário para valorizar o prazer da leitura.
A criança pratica a “leitura lenta” e, por esta razão, sua imaginação é levada ao ambiente da narrativa. Ela se imagina personagem ativa dos acontecimentos. Por que na idade adulta perdemos esta capacidade? É uma pergunta que devemos fazer sempre que nos defrontamos com uma obra atraente.
Por fim, o autor afirma que o “ser” leitor consegue ler algo em torno de 500 livros em sua vida, o que é pouco, de modo que devemos selecionar muito bem o que ler, absorver completamente seu conteúdo como se fosse uma pérola e entender que esta biblioteca será uma representação única do nosso caráter.
Meu nome é José Roberto Cardoso, minha vida inteira passei na academia e o livro é parte integrante de minha atividade profissional e e do meu lazer. Pena não ter lido este livro antes.
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A Slow Medicine tem como seu primeiro princípio a valorização do tempo: “….tempo para ouvir, para entender, para refletir. Tempo para consultar e tomar decisões”. O Movimento Slow deu origem à várias vertentes, que passam pela educação das crianças, pela leitura, pela vida nas cidades, pelo pensamento – seu foco fundamental é o questionamento da velocidade do cotidiano imposto pela modernidade e os benefícios advindos de uma atenção maior à vida presente – no resgate da magia e da solidez do momento vivido em detalhes: uma refeição com os amigos, a convivência com a família, uma caminhada num lugar agradável, o mergulhar na escuta de um concerto e nas decisões do cuidar de si próprio e da própria saúde. A “leitura lenta” pode fazer parte desta saudável atitude de atentar à vida e suas nuances. A Medicina Narrativa, que acreditamos intrinsecamente vinculada às ideias da Medicina sem Pressa, já aponta para a riqueza que a aproximação da literatura com medicina pode trazer para a prática clínica cotidiana.
Nestes tempos em que a pletora de informações nos assalta incessantemente pela internet, pela mídia, pelos meios de comunicação, em particular na seara das ciências da saúde, onde cotidianamente somos bombardeados por um sem número de artigos, cursos e títulos de livros, nada melhor que a sugestão de um aprofundamento vagaroso no objeto de nosso estudo. Atenção, concentração, deleite. A proposta de Slow Reading se coaduna com a filosofia concebida pela Medicina sem Pressa – com uma atitude cuidadosa e ponderada, abrindo espaço à reflexão. Com calma…. Sem pressa…. (José Carlos Campos Velho).
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Prof. Dr. José Roberto Cardoso:
Sou engenheiro, professor titular da Escola Politécnica da USP, onde fui diretor no período de 2010-2014. Ao longo de minha carreira tive intensa atividade acadêmica, como a publicação de dezenas de artigos, 3 livros, orientação de teses de mestrado, doutorado e pós-doutorado. Membro atuante de organizações internacionais que se dedicam à Educação em Engenharia, sou casado com Jandira, tenho dois filhos e gosto da vida em família e de cultivar os amigos. Agrada-me muito passar os fins de semana em minha chácara em Ibiúna, escrevendo, lendo um livro, ouvindo música. Sou autor da resenha do livro “The Slow Professor“, publicado aqui neste site, em agosto de 2016.
PS: a fotografia que ilustra o post foi obtida no site Pixabay
Olá Professor. Gostei demais de seu texto. Também sou ansioso por ler o final dos livros. Preciso voltar a ler como aprendi na infância: ler, entender, refletir, aprender e viver. Ainda há tempo.
Obrigado e um grande abraço.
Verdade. Conectava-me e tinha muito mais prazer com a história do livro quando lia devagar.