Por José Carlos Campos Velho:
Um sábado chuvoso. A temperatura era agradável e provavelmente os programas ao ar livre seriam improváveis naquele dia. Ideal para ficar em casa, lendo, resolvendo pendências, compartilhando algumas horas com a família, e mais tarde ir ao cinema. Ou algo que o valha. Enfim, a vida para dentro. Mas o caminho que seguimos foi outro: de manhã cedinho, rumo à Associação Paulista de Medicina, para o I° Encontro Brasileiro de Slow Medicine, a Medicina sem Pressa. Um evento que tínhamos organizado meticulosamente, passo a passo. Desde a elaboração do programa, até detalhes do cardápio do almoço. Sim, os participantes almoçaram juntos, trocaram ideias e experiências, e principalmente o entusiasmo com os assuntos que gradualmente vinham sendo apresentados. Estes temas foram objeto de reflexões ao longo do ano no site Slow Medicine Brasil,
O primeiro módulo, coordenado pelo professor Paulo Lotufo, teve a apresentação do Prof . Dario Birolini, falando da relação médico-paciente, como ele sempre salienta, o fulcro da prática médica. Em seguida, o Dr. José Carlos Campos Velho dissertou sobre a história, a filosofia e os princípios da Slow Medicine. O segundo módulo versou sobre concepções que se entrelaçam com a filosofia da Slow Medicine. Sob a batuta da Dra. Gisele Sugai, o Prof. Afonso Carlos Neves apresentou os conceitos primordiais da Medicina Narrativa, o psiquiatra André Negrão explorou a pouco conhecida Medicina Baseada em Valores e o Prof. Pablo González Blasco fechou a manhã falando de maneira apaixonada sobre a necessária Humanização da Prática Médica.
No período da tarde, o terceiro módulo abordou 2 temas controversos, na presença do Dr. Renato Walch, presidente da Associação Paulista de Medicina de Família e Comunidade. O dr. Márcio D’Império, urologista, detalhou as evidências científicas relativas ao rastreamento do Câncer de Próstata e posteriormente o dr. Kazusei Akiyama discorreu sobre aspectos conceituais da Medicina Integrativa, estabelecendo os vínculos com a filosofia da Medicina sem Pressa.
O quarto e último módulo, entusiasticamente conduzido pela psicóloga Vera Bifulco, contou com as visões de diferentes especialistas, sobre a maneira como os princípios da Slow Medicine impactam sua prática. A Dra. Ana Lúcia Coradazzi abordou a Slow Oncology, termo cunhado por ela; o Dr. Bernardo de Mônaco, neurocirurgião, falou sobre a lombalgia, a sLOW BACK PAIN, expressão que ele também criou. Ana Célia de Souza, psiquiatra, despertou a emoção dos participantes com a palestra Luto sem Pressa, Cuidados Paliativos e Slow Medicine. E fechando a tarde com laço de ouro, o Dr. Daniel Felgueiras Rolo trabalhou a ideia de uma Geriatria sem Pressa, tema caro à Slow Medicine, fruto do trabalho incansável de Dennis McCullough.
A sensação no final do encontro, que contou com a presença maciça dos participantes até sua conclusao, é que saímos todos enriquecidos. Foi, sem dúvida, uma experiência com potencial transformador.
__________________
E outubro não parou aí. No dia 17, o IIº Conecta Saúde, organizado pelo IEPAS – Fehoesp, contou com a participação de Marco Bobbio. A manhã de abertura do evento, foi voltada para “os modelos disruptivos que transformam os resultados na saúde” . Na pauta, Slow Medicine e Choosing Wisely. Sob a coordenação do Prof. Dario Birolini, a mesa contou com explanações de Marco Bobbio, falando sobre a Rede Italiana de Hospitais Slow; posteriormente o Dr. José Carlos Campos Velho dissertou sobre os desafios da implantação da Slow Medicine no Brasil. Finalizando, o Dr. Lucas Santos Zambom, representando a Choosing Wisely Brasil, falou sobre os marcos teóricos da campanha no Brasil e no mundo.
O Dr. Marco Bobbio ainda fez uma belíssima apresentação na UNIFESP, em evento organizado pelo dr. Afonso Carlos Neves, na Disciplina de Neurologia. A palestra versou sobre a relação médico-paciente, “pedra fundamental da Slow Medicine”.
Agradecemos ao Departamento Científico da Associação Paulista de Medicina, em nome de seu diretor Prof. Paulo Lotufo e a enorme dedicação de suas funcionárias, que permitiu que o evento se concretizasse e pelo excelente nível de organização que foi atingido. O dr. Kazusei Akiyama, nosso colaborador, não mediu esforços para o sucesso do encontro.
Que este tenha sido o primeiro de muitos, e que cada vez mais a Slow Medicine possa chegar a mais e mais pessoas! Vida longa e tranquila à Slow Medicine!
Sim, um encontro histórico, documento vivo de uma filosofia que por certo irá se perpetuar na atenção a saúde em nosso país. Entusiasticamente abordada em cada fala com representantes do mais alto gabarito. O que ouvi dos participantes no final da tarde foi a prova concreta que o objetivo final foi atingido. “Quando será o próximo encontro, quero estar presente”. Parabéns José Carlos, a Slow Medicine Brasil nasceu em berço esplêndido.
Foi realmente enriquecedor! Por favor, se possível organizem mais eventos, tenho certeza que todos ficaram com o desejo de “quero mais”!