Uma entrevista sobre Slow Medicine

fevereiro 12, 2018
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Por José Carlos Campos Velho:

O que é o conceito Slow Medicine? Por que foi desenvolvido?

José Carlos Campos Velho (JCCV): A Slow Medicine é uma filosofia de trabalho médico que busca resgatar o tempo e a relação médico-paciente como elementos essenciais da prática clínica. Embora essencialmente vinculada ao exercício da Medicina, toda a equipe multiprofissional de atenção em saúde pode se beneficiar da adoção de seus princípios. Além destes 2 pilares, o compartilhamento das decisões com o paciente e seus familiares e o uso ponderado da tecnologia estão entre seus marcos norteadores.

De que forma ele funciona na prática e quais resultados pode trazer?

JCCV:  A Medicina sem Pressa, uma tradução livre de Slow Medicine, pode ser considerada um resgate de uma prática mais humanista e centrada na pessoa. De certa maneira, é uma expressão do “Zeitgeist”, o espírito de nosso tempo, e abriga várias  iniciativas que enriquecem o pensamento e a prática médica, como a Medicina Narrativa, a Medicina Baseada em Valores  e os Cuidados Paliativos, além de ser parceira de campanhas como por exemplo a Choosing Wisely  , que começa a se consolidar no Brasil, através da Campanha das “Escolhas Sábias”. O aprofundamento do conhecimento destas disciplinas e campos de atuação torna-se vital nos tempos que vivemos. Reafirmamos que são formas de recolocar no centro da atenção médica, aquilo que sempre foi sua atividade-fim: a excelência do cuidado do paciente. Não acreditamos que o foco da Slow Medicine sejam os aspectos econômicos da saúde – o foco é a qualidade da assistência prestada ao paciente. Mas acreditamos que a racionalização do uso da tecnologia e a individualização do cuidado, presentes em sua forma de pensar a atenção à saúde, sem perder de vista as melhores evidências científicas, possam trazer um impacto positivo nos custos da assistência médica. Salientamos que a implantação destes princípios pode funcionar como catalizador do processo de humanização da assistência médica, na perspectiva de uma Medicina Sóbria – onde fazer mais não significa fazer melhor, Respeitosa – em que os valores e as expectativas dos pacientes são considerados, e Justa – que propõe um amplo acesso a serviços de saúde de qualidade.

A Slow Medicine já é aplicada no Brasil?

JCCV: A Slow Medicine não se configura como um programa de saúde ou uma especialidade médica em particular. Trata-se, como já afirmamos, de uma filosofia de trabalho, que pode permear toda e qualquer ação em saúde que tenha relação com o cuidado do paciente. Desta maneira, acreditamos que muitas pessoas já se utilizam destes conceitos há muito tempo em sua prática cotidiana. A Slow Medicine vem a fornecer ferramentas e instrumentos que sistematizam estas ideias. Como afirma Ladd Bauer, um dos pioneiros da Slow Medicine nos EUA, “devemos fazer o nosso melhor para mantê-la (…a Medicina sem Pressa) como um conceito aberto, como um grande guarda-chuvas que cobre todas as formas de medicina permeadas de boas ideias de como cuidar dos pacientes. Um meme, não um plano ou um conjunto de técnicas. Uma reconstrução cultural de valores.”

Quais são os principais benefícios para o paciente?

JCCV:  Os benefícios para os pacientes ficam claros na medida em que a aproximação entre  médicos e pacientes, um desejo muitas vezes não expresso nas consultas, gera relacionamentos mais sólidos e duradouros, permeados por camaradagem e confiança. Embora a cultura do uso excessivo de tecnologia – na ilusão de que fazer mais sempre é melhor – muitas vezes é demanda dos próprios pacientes, ela foi alimentada pelo sistema de saúde por décadas, e acabou gerando insatisfação e distanciamento entre médicos e pacientes. Uma mudança de paradigma permite que o encontro de dois seres humanos volte a ser um ato sagrado e resgate a paixão pelo ato de cuidar, restaurando desta maneira a dignidade e a nobreza do trabalho médico. Portanto, tanto médicos como pacientes tendem a se beneficiar com a aplicação dos princípios da Slow Medicine, pelo resgate da dimensão humana e da satisfação que o ato de cuidar pode acarretar para ambos.

Este tipo de atendimento é uma tendência mundial?

JCCV: “Overdiagnosis e Overtreatment” são assuntos que estão na ordem do dia, e  cuidado centrado no paciente é a melhor estratégia para que estes excessos sejam debelados. A Slow Medicine pode se configurar como uma das maneiras de enfrentar o atual estado de coisas, caracterizado por custos estratosféricos e  descontentamento de médicos e pacientes. Richard Smith, ex-editor do British Medical Journal  , afirmou em seu blog em 2012, que “a Slow Medicine é a melhor forma de Medicina para o século XXI.” Acreditamos que podemos estar apontando um dos caminhos possíveis para uma prática médica mais eficaz e apropriada.

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Esta entrevista não foi publicada em nenhum meio de comunicação. As perguntas forma elaboradas pela jornalista Laura Espada e respondidas por José Carlos Campos Velho. Optamos por publicar o material, pois sintetiza conceitos importantes sobre o Movimento Slow Medicine.

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E o Movimento Slow Medicine continua presente na mídia. Nos últimos meses tivemos várias inserções, mormente na mídia eletrônica. Destaque para o verbete Slow Medicine na Wikipedia, em publicação que disserta sobre a filosofia da Slow Medicine, sua história e sobre as iniciativas internacionais. O documento escrito por Yung Lie, do Instituto Slow Medicine Holanda, publicado em nosso site, é citado como uma das fontes no texto e o site brasileiro consta como uma das referências.

Victoria Sweet , autora de duas obras seminais da Slow Medicine, God’s Hotel e Slow Medicine – The Way to Healing, escreveu uma matéria que está publicada como destaque no site Slow Medicine Brasil. A mesma matéria, bilíngue, foi divulgada no website da autora.

O envelhecimento foi o foco da atenção de Dennis McCullough, geriatra e médico de família americano, e o maior porta-voz da Slow Medicine nos EUA. De fato, a Geriatria e Gerontologia são áreas que podem se beneficiar enormemente dos princípios da Medicina sem Pressa, que começa a se tornar conhecida nos círculos especializados. A Revista Aptare, através de sua editora, a jornalista Lilian Liang, e o portal da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia publicaram entrevistas com o Dr. José Carlos Campos Velho, editor do site Slow Medicine Brasil, cuja especialidade é Geriatria.  O blog Papo no Consultório nos brindou com uma entrevista muito interessante e abrangente, conduzida pela jornalista Carla Chein. O Instituto Brasileiro para a Segurança do Paciente nos agraciou com um uma matéria, onde destaca-se um vídeo no qual os “pilares da Slow Medicine” são elencados e o entrelaçamento de seus princípios com a Geriatria é elucidado.

A dra. Suzana Vieira, endocrinologista e colaboradora do Movimento, publicou uma postagem na Rede Humaniza SUS divulgando nossa página na internet e convidando as pessoas para conhecer melhor a iniciativa. O portal Hospitais Brasil publicou matéria consistente sobre a Slow Medicine e a campanha Choosing Wisely, explorando alguns conceitos em profundidade.

Ao longo do ano, o Prof. Dario Birolini teve inúmeras participações em eventos e na mídia especializada. Foi entrevistado pela #Neurolife, e a matéria recebeu destaque na Revista da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia, a SBNHOJE (na página 24). Para finalizar, palestra proferida pelo prof. Dario no Uruguai, foi objeto de publicação no Boletim da Sociedad de Cirugía del Uruguay. É a Slow Medicine atravessando fronteiras e levando sua mensagem aos nossos irmãos platinos. Sua participação mais recente foi uma entrevista no Canal da Rede Vida, onde fala sobre o atual “estado de coisas na prática médica” e pontua a relação médico-paciente como o fulcro da profissão.

 

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